Os cientistas afirmam há muito tempo que o núcleo interno da Terra
se formou há cerca de um bilhão de anos, quando ele passou por um grande
crescimento. A bola de metal líquido no centro do nosso planeta
rapidamente cristalizou devido à redução das temperaturas, crescendo
constantemente para fora até atingir o diâmetro de aproximadamente 1.220
quilômetros que, acredita-se, possui hoje.
A questão é que, de
acordo com um novo estudo, isso não é possível – ou, pelo menos, nunca
foi facilmente explicado. No artigo, os pesquisadores dizem que o modelo
padrão de como o núcleo da Terra se formou esquece de um detalhe
crucial sobre como os metais cristalizam: uma queda obrigatória e maciça
de temperatura que seria extremamente difícil de alcançar nas pressões
do núcleo.
Um material deve estar em ou abaixo da sua temperatura
de congelação para ser sólido. Porém, para que um líquido comece a
cristalizar, é necessária uma dose extra de energia. Quando queremos
fazer gelo, por exemplo, colocamos a água em um freezer. Mas para ela de
fato congelar, leva algumas horas, a não ser que coloquemos ela em uma
temperatura bem abaixo do seu ponto de congelamento (0ºC). Essa energia
extra, chamada de barreira de nucleação, é o ingrediente que os modelos
do núcleo interno da Terra não incluíam até agora.
Para superar a
barreira de nucleação e começar a solidificar, o líquido deve ser
resfriado bem abaixo do seu ponto de congelamento – o que os cientistas
chamam de “super-resfriamento”.
Mas a barreira de nucleação para o metal – nas extraordinárias pressões no centro da Terra – é enorme.
“Todos, incluindo nós mesmos, pareciam estar deixando passar esse
grande problema – que os metais não começam a cristalizar
instantaneamente, a menos que haja alguma coisa que abaixe bastante a
barreira de energia”, aponta Steven Hauck, professor de Ciências da
Terra, Ambientais e Planetárias da Universidade Case Western Reserve,
nos EUA.
“Com as pressões do núcleo, ele teria que arrefecer 726°
C (ou 1.000° Kelvin) ou mais abaixo da temperatura de fusão para
cristalizar espontaneamente do líquido puro”, disse Hauck ao site Live
Science. “E isso é muito resfriamento, especialmente porque, no momento,
a comunidade científica acha que a Terra resfria talvez cerca de 100°
Kelvin (ou -170°C) por bilhão de anos”.
De acordo com este
modelo, “o núcleo interno não deveria existir, porque não poderia ter
sido super-resfriado naquela medida”, define o autor do estudo, Jim Van
Orman, também professor de Ciências da Terra, Ambientais e Planetárias
da Case Western. A barreira de nucleação do núcleo interno fundido,
disse ele, deve ter diminuído de outra maneira.
Mas como?
Quando colocamos uma pedra de gelo em contato com água que está
congelando, o congelamento acontece mais rápido. Isso ocorre porque o
gelo diminui a barreira de nucleação. Em seu artigo, os pesquisadores
propõem uma possibilidade parecida para o núcleo da Terra: talvez um
pedaço maciço de metal sólido tenha se desprendido do manto e mergulhado
no núcleo líquido. Como um cubo de gelo caído em um copo de água gelada
lentamente, este sólido pedaço de metal poderia ter reduzido a barreira
de nucleação do núcleo o suficiente para iniciar uma rápida
cristalização.
O problema é que, para essa teoria estar certa, o
pedaço de metal teria que ser gigantesco. “Para ser liberado no núcleo
e, em seguida, fazer todo o caminho até o centro da Terra sem se
dissolver, este pedaço teria que estar na ordem de cerca de 10 km de
raio”, calcula Van Orman. Isso significa um diâmetro do comprimento da
ilha de Manhattan.
“Algo aconteceu para diminuir a barreira de
nucleação, permitindo que a cristalização ocorresse a uma temperatura
mais alta. Os cientistas fazem isso no laboratório, adicionando um
pedaço de metal sólido a um metal líquido ligeiramente super-resfriado,
fazendo com que o material, agora heterogêneo, se solidifique
rapidamente. Mas é difícil imaginar em uma escala de tamanho da Terra
como isso poderia ter acontecido. Como um sólido de reforço de nucleação
poderia ter encontrado seu caminho até o centro do planeta para
permitir o endurecimento (e expansão) do núcleo interno”, diz Huguet.
“Se for esse o caso, precisamos descobrir como isso pode realmente ter
acontecido”, diz Van Orman. “Por outro lado, há alguma característica
comum dos núcleos planetários que não pensamos antes – algo que lhes
permite superar essa barreira de nucleação?”, questiona. “É hora de toda
a comunidade pensar sobre este problema e como testá-lo. O núcleo
interno existe, e agora temos que descobrir como”
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