28 de fevereiro de 2019

A picaretagem Quântica – Um “novo” modelo social de crença científica

(Resenha crítica sobre a tendência terminológica social: [quântica(o)] e suas extrapolações científicas.)

Você com certeza  já ouviu falar em física quântica ou mecânica quântica !

Uma tentativa cientificamente honesta de explicar a natureza!

Talvez tenha ouvido também em:

·      Massagem quântica

·      Terapia quântica

.        Exercícios quânticos

·        Dietas quânticas

·        Receitas quânticas

·        Chás, colchões e alimentos quânticos...

Mas até onde de fato vão as teorias das ciências e seus conceitos filosóficos e começam as crenças científicas e todas as suas cargas promíscuas, que acabam por extrapolar completamente o que é estudo ou pesquisa com metodologia e geração de dados quantizáveis e ou “qualitáveis”?!


Não é novidade alguma que a internet democratiza informações com muito mais facilidade. Os artigos científicos podem ser acessados com maior facilidade e segurança, isto ajuda muito a divulgação de conhecimento científico. No entanto, também é verdade que uma onda crescente de informações falsas carregadas com jargões da ciência ou do famoso “cientificamente comprovado” induzem as pessoas a aceitar acriticamente certas ideias.


Para quem é da biologia, está cansado de observar veiculações criacionistas dizendo que verdades bíblicas foram cientificamente comprovadas. Para quem é da geografia, os jargões são referentes a suposta comprovação científica de uma Terra plana e agora, para quem é da física, vem se tornando comum a ideia de que a física quântica comprova cientificamente a crença em deus, livre-arbítrio, alma, terapia vibracional quântica e consciência cósmica. O mercado da pseudociência conta hoje até com colchões quânticos proporcionando supostas curas de problemas de coluna. 

Tal promiscuidade de termos carece de evidências científicas e usa jargões na tentativa de legitimar a qualidade de seus produtos ou de suas crenças. Todas são, no fundo, tentativas de ludibriar os leigos que obviamente pouco conhecem sobre este ramo da física, mas acabam acreditando no discurso pseudocientífico porque o termo “quântico” está se tornando popularmente conhecido. Aqui, vou tentar rastrear a origem desta promiscuidade e a popularização da picaretagem quântica.

A física quântica surgiu como uma tentativa cientificamente honesta de explicar a natureza, naquilo que há de menor nela: os constituintes básicos da matéria e tudo que possa ter um tamanho igual ou menor que um átomo. Tudo o que apresenta dimensões maiores do que um átomo está sujeito a leis da física convencional, que são denominados de: “física clássica”. Estes objetos estão sujeitos a atração gravitacional, as leis da inércia, as leis de ação e reação de Newton. Contudo, ao adentrarmos em dimensões menores que a de um átomo, as propriedades da física mudam. A física precisou aceitar que outras leis eram necessárias para dar conta de explicar fenômenos que fazem parte desta realidade mínima, e um ramo novo da física foi inaugurado, a física/mecânica quântica.
A física quântica trabalha com conceitos de partícula (objeto com uma mínima dimensão de massa, que compõe corpos maiores) e ondas (como a radiação eletromagnética que não necessita de um ambiente material para se propagar). Enquanto as partículas eram estudadas na perspectiva da mecânica newtoniana, as radiações das ondas eletromagnéticas eram descritas pelas equações de Maxwell.

A partir desta trajetória que a física ou, a mecânica quântica ganhou autonomia, estudando eventos que ocorrem nas camadas atômicas e sub-atômicas, entre moléculas, átomos, elétrons, prótons e outras partículas.

Conhecendo estes dois primeiros parágrafos, já é possível descartar várias destas alegações que envolvem misticismo e produtos com o discurso “quântico”, afinal, tanto deus quanto alma, consciência cósmica, livre-arbítrio em nada recebem respaldo ou lógica quando a física quântica se estabelece limitando-se ao estudo de moléculas, átomos ou partículas sub-atômicas. Esses são os reais temas científicos abordados, estudados e que começam a gerar alguns dados. Esses outros exemplos citados acima, são vertentes filosóficas que se utilizam de alguns resultados de pesquisas científicas, para fomentar ideias que por enquanto são apenas isso mesmo...ideias...

A noção de que a mecânica quântica fornece uma justificativa científica para acreditar no livre-arbítrio tem uma natureza muito difusa. Em vez de exibir um conflito entre ciência e religião, a maioria das afirmações sobre as implicações religiosas das ideias quânticas se resguardam nas palavras do físico Amit Goswami, que lançou uma ponte falaciosa sobre o velho abismo entre ciência e espiritualidade.

      A ideia de que a mecânica quântica foi utilizada para demonstrar a existência do livre-arbítrio ou o que quer que seja, é, dentre tantas outras coisas, uma concepção que ganhou adeptos na internet e em publicações pouco científicas.
Amit Goswami - FÍSICO TEÓRICO

Um grande espectro de pensadores com viés voltado a proteção espiritual, até cientistas, filósofos, sacerdotes e místicos puseram a teoria quântica em campo com o intuito de justificar tais concepções extrapolando para além de um elenco outras ideias religiosas.

Os místicos quânticos, ou ainda, a onda new age quântica afirma possuir confirmação científica de suas alegações, e embora não tenham laços com a comunidade científica afirmam categoricamente que suas implicações metafísicas da teoria quântica fazem sentido. Na outra ponta estão os céticos, frequentemente com muitos laços com instituições científicas denunciam a picaretagem quântica.

Os “teólogos quânticos” afirmam frequentemente que as suas conclusões são intrínsecas a teoria, baseando-se frequentemente na ideia de que a ciência e a religião compartilham algum tipo de essência.

Os céticos tipicamente destacam a separação epistemológica existente entre ciência e religião e em consequência, defendem que todas as alternativas de misturar as duas com imposições são divagações desvairadas da sociedade sobre o que acham que é a ciência e não o que ela é em si. Geralmente essas afirmações são feitas por pessoas, que em raras exceções, sabem de fato como funciona um laboratório, um observatório, o que é a metodologia científica aplicada e não apenas filosófica.

As revelações de ordem religiosa da física quântica têm tido muito mais a ver com os contextos em que apareceram do que com a teoria quântica propriamente dita. No entanto, os fundadores da teoria quântica carregam uma parcela de culpa pelas especulações no campo filosófico e religioso. Tal como o caso da teoria da evolução, a discussão da teoria quântica no campo religioso, tem deus como elemento que emerge nas implicações relacionadas a aleatoriedade.

 Da mesma forma que os criacionistas alegam que as mutações (erros aleatórios no DNA) não podem direcionar a complexidade da vida (pois eles excluem o fator seleção natural e vários outros elementos e processos de seleção) o fazem com a aleatoriedade no princípio da incerteza de Heisenberg. O princípio afirma a impossibilidade de determinar dentre outras coisas a posição e o momento de partículas atômicas simultaneamente.

 A partir da década de 20 o físico Niels Bohr (1885-1962) e Werner Heisenberg (1901-1976) além de tantos outros cientistas colocaram o princípio da incerteza no âmago da chamada interpretação de Copenhague da física quântica, onde se representava o microcosmo como composição de possibilidades de interação e sobreposição, todas contidas na função de onda de um sistema.

Quando o salto quântico se transformou em uma realidade única, outras interpretações surgiram, particularmente a partir da década de 50. Inclui-se aí a interpretação do Hugh Everett (1930-1982) e a reformulação determinística das ideias críticas por parte de David Bohm (1917-1992). Ambas sendo releituras que pretendiam explicar a realidade sem admitir o papel do acaso no Universo.
Eddington é famoso pelo seu trabalho sobre a Teoria da Relatividade de Einstein. Foi importante na história da física moderna, porém, se aproximou de aspectos nada científicos ligados a misticismo e esoterismo.

As primeiras tentativas foram dadas pelo astrônomo britânico Arthur Stanley Eddington (1882-1944) em seu livro “Nature of the Physis World” publicado em 1928 e baseado em uma série de palestras realizadas no ano anterior e alguns meses após a publicação de Heisenberg e seu princípio da incerteza. Eddington, que era um quaker devoto, com tendências ao misticismo apresentou uma das primeiras análises gerais da teoria quântica incentivando uma discussão sobre as implicações religiosas e filosóficas das descobertas do princípio da incerteza. Continuou a abordar a relação entre a física moderna e a religião e outras obras ao longo da década de 30 e conquistou apoio de diversos escritores e divulgadores de ciências menos conhecidos. Entre as grandes questões com que se defrontaram estes autores incluía a viabilidade do materialismo a possibilidade do livre-arbítrio humano e a capacidade de deus intervir no mundo natural.

Até mesmo Arthur H. Compton (1892-1927) vencedor do prêmio Nobel de Física de 1927 acabou apoiando Eddington, pois também era um entusiástico das duas questões (materialismo e livre-arbítrio), chegando a afirmar que o surpreendente mundo dos átomos aponta para a ideia de que existe um deus.  Ele utilizou o princípio da incerteza de Heisenberg para argumentar a favor do livre-arbítrio. Em seu livro, Eddington também abordou o tema livre-arbítrio embora de modo mais intempestivo. Assim, o verdadeiro mito dessa onda de especulação quântica foi não a criação de uma nova teologia natural, mas a alegação mais modesta de que os desejos vitorianos de um Universo puramente materialista finalmente tinham desaparecido e deixaram aberto espaço para a incerteza enquanto princípio científico que ajudava a criar o espaço para a espiritualidade no mundo moderno. Este era o lugar onde enfiar um deus ou uma força.
Obviamente, muitas críticas foram feitas a esta leitura deturpada da física quântica. Em sua obra “Philosophical and the Physicist” (1931) a filósofa Lizzie Susan Stebbing (1885-1943) apontou uma série de pressupostos filosóficos equivocados e erros grosseiros de Eddington. Do mesmo modo, o filósofo William Savvery (1975-1945) e o físico inglês Charles Galton Darwin (1887–1962) que era neto do naturalista britânico Charles Darwin criticaram a tentativa de Eddington de aplicar o princípio da incerteza na questão do livre-arbítrio. Todavia, o tema seduziu particularmente o movimento anti-evolucionista presente nos Estados Unidos, que tinha se acentuado no final da década de 1920 onde o choque gerador da humildade da Grande Depressão foi visto como resultante do processo inexorável da Ciência e Tecnologia.

Nos Estados Unidos, um correspondente de uma revista chegou a afirmar em 1929 que se a teoria quântica estivesse certa, então reestruturaria a esperança de que há algo mais além. As especulações sobre o significado da física quântica não se propagaram propriamente através da cultura popular, pois a teoria quântica foi eclipsada pela teoria da relatividade de Einstein. Até hoje ainda ocorre isto e pelo fato da física quântica não ser tão facilmente estudada quanto a física newtoniana onde se pode fazer experimentos em sua própria casa. De fato, poucas obras abordaram o tema de divulgação das ideias quânticas para o grande público até o final do período da Segunda Guerra Mundial com exceção de “Mr. Tompkins in Wonderland” (1940) de George Gamow. Nas décadas de 1920/1930 a maior parte das discussões públicas sobre ciência e religião foram monopolizadas pelo debate da teoria da evolução e em torno dos comentários de Einstein sobre deus e os mistérios do Cosmo. Aliás, Einstein não acreditava em um deus pessoal.

No entanto na década de 1950 a física quântica e suas implicações filosóficas começaram a receber mais atenção e os primeiros sinais de uma nova onda de interesse com implicações religiosas da teoria quântica começaram a aparecer, em especial após 1975.
Fritjof Capra - Sugeriu ligações entre a física moderna, a física quântica e o misticismo oriental.

Quem reviveu este debate foi o físico Fritjof Capra (1939) quando publicou seu livro “O Tao da Física” sugerindo uma série de ligações entre a física moderna, física quântica e o misticismo Oriental. Autores como C. H Hsieh de “Quantum Psysics and the I Ching” (1937) tinham publicações semelhantes a obra de Capra e tornaram estas ideias públicas.

O livro “Dancing Wu Li Master” (1979) de Gary Zukav apresentava uma perspectiva global semelhante sobre a física quântica no contexto da física Oriental. Na década de 1990 um amálgama de mecânica quântica com misticismo Oriental foi adotado por estes místicos new age. Curandeiros e profetas como Deepak Chopra e Ramtha, a entidade espiritual supostamente canalizada pela médium americana Judy Zebra Knight se tornou fonte de inspiração do filme de 2004 “What the (bleep) Do We Know?”

Houve a popularização da pseudociência e a picaretagem quântica se expandiu rapidamente. A noção de conexões entre mecânica quântica e o pensamento oriental refluiu de volta no Oriente. Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama (1935), têm se mostrado particularmente interessado na “nova física” e chegou a introduzir um seminário sobre teoria quântica nas universidades monásticas tibetanas.

A segunda onda de interesse religioso pela física quântica foi muito diferente daquelas que circulavam na década de 30 nos escritos budistas, taoístas e hindus. Nela, deus e o livre-arbítrio não mereciam grande atenção.

Capra e aqueles que prosseguiram tentando mostrar a convergência positiva da ciência moderna com as ideias místicas. Houve aqueles que defenderam uma mecânica quântica orientalizada da argumentação em favor da interconexão universal de eventos apelando para interligação das funções de onda que descrevem partes distintas de sistemas maiores ainda que não ligadas por nenhuma linha individual de causalidade física.

Tal ideia atingiu a sua forma mais extrema naquilo que Amit Goswami chamou de universo autoconsciente, ou seja, a ideia de que a consciência humana foi responsável pelo colapso das funções de onda e a criação da realidade.

Amit Goswami é doutor pela Universidade de Calcutá, se apresenta como referência mundial em estudos que buscam conciliar ciência e espiritualidade e participou até de palestras sobre felicidade, prosperidade, abundância e física quântica. Pessoas como Amit estão por trás de ideias como aquelas apresentadas no documentário “O segredo” onde instiga as pessoas a pedir ao universo que este conspirará a seu favor.

Suas publicações não têm repercussão na comunidade científica, ao contrário do que pregavam os divulgadores de seus best-sellers. Registros da base de dados Web of Science pesquisados por Tuffani em 2016 indicam nove trabalhos publicados por Goswami desde janeiro de 1986 e que tiveram apenas 46 citações em todo o mundo, quase todas dele mesmo ou de seus colaboradores. Ou seja, seu trabalho é irrelevante para a ciência de quem apenas considera o que é factível.

No caso de Capra, sua obra ainda iria harmonizar-se com os movimentos contra culturais ocidentais e a sua atração por tudo que fosse esotérico. A década de 70 assistiu igualmente as mudanças no seio da psicologia em direção a tentativa de justificar um estudo sério da consciência e telepatia. Capra também se tornou adepto da pseudociência.

Notamos que todo o pensamento contido dentro da física quântica foi sendo subvertido a leituras esotéricas e míticas, alcançando alegações sem qualquer fundamentação realmente científica. Aquilo que começou com uma tese realmente científica se desdobrou, nas mãos de místicos e gurus em telepatia e esoterismo barato. De fato, nas décadas de 1980/1990 as ideias de poderes da mente ajustaram-se extremamente bem com esses movimentos místicos new age e ganharam as prateleiras de livros de auto-ajuda.

Muitas dessas teses acabaram dando origem as ideias de “criação consciente da vida” e proclamando que estudos de mecânica quântica tinham descoberto que os pensamentos e expectativas do experimentador causavam efeito no resultado da experiência (Abril, 2007).

Os “místicos quânticos” abusando de suas bizarrices desde o final da década de 60 e 70 começaram a pôr em questão as doutrinas tradicionais. A bizarrice e picaretagem quântica transformou-se em um poderoso meio de promover uma pseudo-iluminação pregando a qualidade ilusória da realidade percebida, eliminando e diluindo as clássicas divisões epistemológicas entre ciência e religião.

Os “teólogos quânticos” foram alvo de críticas por parte da galeria de céticos que emergiu após a Segunda Guerra Mundial para combater a pseudociência nas suas múltiplas formas: desde o criacionismo até a astrologia. Dentre os mais famosos céticos a todos estes movimentos está o físico Victor Stenger (1935-2014) que criticou arduamente e de forma explícita o misticismo quântico (Stenger 1997) e do criacionismo/Design inteligente.

Nos últimos anos os interpretadores místicos da física quântica tiveram que compartilhar o palco com inúmeros apologistas cristãos ansiosos por preencher o espaço desbravado pelas ideias quânticas com apoio positivo de sua crença religiosa.

Em 1988 Robert J. Russell (1946) um físico que se formou em teólogo propôs que a aleatoriedade do microcosmo forneceria um hiato através do qual deus poderia agir sobre o mundo natural. A ideia logo foi adotada por outros teólogos e filósofos com viés religioso. No ocidente, esta interpretação religiosa da física quântica chegou através de obras como “Deus e a Nova Física” de Paul Davis (1984), embora não tenha se aproximado da influência cultural das últimas alternativas místicas.

Bohr, Heisenberg e Wolfgang Pauli (1900-1958) foram seguramente protagonistas do debate acerca das verdadeiras implicações da teoria e os defensores das interpretações metafísicas tem justaposto os escritos destes cientistas e importantes nomes da física quântica ao lado de trechos bíblicos, da sabedoria de buda e de observações do I Ching com objetivo de estruturar alegações criando semelhanças entre eles.

Os fundadores da mecânica quântica preocupavam-se mais com os detalhes científicos, metodológicos e técnicos de seus trabalhos do que aspectos propriamente ditos da metafísica.

Podemos dar crédito as recordações invocadas por Heisenberg em 1971, um período relativamente em que ele e Niels Bohr, Pauli e Paul Dirac (1900-1984) trocavam ideias e interesses sobre a relação existente entre ciência e religião, isso desde 1927 (Heisenberg, 1971). Somente após a Segunda Guerra Mundial produziram-se bastante escritos filosóficos e mesmo assim de uma forma fortuita e incompleta, embora Bohr tenha tentado aplicar o seu princípio da complementariedade, de que a realidade só poderia ser descrita através da justaposição de múltiplas e mesmo contraditórias formas de ver o mundo, na questão do livre-arbítrio nem ele e qualquer outro fundador da física quântica invocou o princípio da incerteza nesse tema.

Heisenberg que seguia uma carreira científica e teve um encontro precoce com a filosofia idealista de Platão, sentia que a interpretação de Copenhague da teoria quântica levou os físicos para muito longe das visões materialistas simples que prevaleceram na ciência natural no século XIX (David, 1958). Ele destacou a ideia de uma ciência como uma imagem humilde de si própria em um ensaio publicado em 1971 em que a física passava por uma mudança fundamental, cujo traço característico mais saliente é um retorno à sua auto-limitação original (Heisenberg, 1985). Pauli recordou Heisenberg em uma determinada ocasião prevenindo que um relacionamento antagônico entre conhecimento e fé só podia acabar em lágrimas.

Tanto Bohr como Heisenberg negaram de forma explícita que o observador tivesse algum papel na criação da realidade. Em “Physis and Philosophy” (1958). Heisenberg advertiu para o perigo de entender erroneamente que a introdução do observador implicaria na inclusão da descrição da natureza de algum tipo de características subjetivas e fez notar que o observador tem antes a única função de registrar decisões. Isto é, processos no espaço e no tempo sendo irrelevante se o observador é uma aparelhagem científica ou um ser humano. Ao mesmo tempo fez frequentemente afirmações que pareciam sugerir que a velha noção de um Universo objetivo tinha sido colocada a parte pela física quântica.

A ideia de que a consciência humana fazia as funções de onda entrar em colapso foi sugerida pela primeira vez em 1967 não por um guru místico, mas pelo físico vencedor do prêmio Nobel Eugene Paul Wigner (1900-1995), embora ele rapidamente tenha se retratado pela sugestão (Stapp, 1993).

A preocupação com a mente humana ocupou Wolfgang Pauli que estabeleceu a uma linha de correspondência em cartas com Carl Jung em 1932 cobrindo temas que iam desde misticismo Oriental até objetos voadores não identificados. Tanto Bohr como Heisenberg tiveram também breves contatos com ideias Orientais em geral quando foi nomeado Cavaleiro pela Dinamarca em 1937. Bohr escolheu um brasão onde se incluía o símbolo Ying Yang enquanto sinal de complementariedade. Heisenberg observou explicitamente que a contribuição japonesa para a física poderia constituir uma imitação de um certo relacionamento entre ideias filosóficas na tradição do extremo Oriente e a substância filosófica da teoria quântica.

Carl Von Weizsäcker (1912-2007) – que foi aluno de Heisenberg – instruiu o atual Dalai Lama sobre teoria quântica e parecia acreditar que o seu mentor teria ficado entusiasmado ao saber dos paralelos claros entre filosofia budista e a física moderna. Weizsäcker exagerou no investimento de Heisenberg quanto a filosofia oriental.

Destas releituras feitas ao longo da história da física moderna, onde a quântica surge, toda a picaretagem aparece, sendo aproveitada por gurus e místicos tentando criar uma fonte segura de suas crenças e cosmovisões. É muito comum encontrarmos discursos usando o termo “quântica” dizendo que “pesquisas cientificas comprovam o poder da física quântica em” terapias vibracionais holísticas, deus, alma e tantas outras áreas. Porém, quando se pede as referências científicas destas pesquisas elas não aparecem, ou são publicadas em revistas predatórias. Em último caso, quando há publicações, não há impacto relevante porque não é realmente científica, mas meramente uma retórica.

Referências:

Apryl Jensen, “Quantum Physics and You—How the Quantum Science of the Unseen Can Transform Your Life!”  at http://www.creatingconsciously.com/quantumphysics.html (5 July 2007).

David Cassidy, Uncertainty: The Life and Science of Werner Heisenberg (New York: W. H. Freeman and Company, 1992), 46–48; Werner Heisenberg, Physics and Philosophy (New York: Harper and Brothers, 1958), 128

Heisenberg, W. “Science and Religion,” in Physics and Beyond (New York: Harper and Row, 1971).

Heisenberg, Physics and Philosophy, 58; Heisenberg, “If Science Is Conscious of Its Limits . . . ,” in The Physicist’s Conception of Nature (New York: Harcourt and Brace, 1955), reprinted in Quantum Questions, ed. Ken Wilbur (Boston: New Science Library, 1985), 73.

Stapp, Mind, Matter, and Quantum Physics (Berlin: Springer- Verlag, 1993), 20–21

Stenger, V. The Unconscious Quantum (Amherst, N.Y.: Prometheus Books, 1993); and Stenger, “Quantum Quackery,” Skeptical Inquirer 21 (1997): 37–40.

Thrus, D. P. Mito 22 – A física quântica demonstrou a doutrina do livre-Arbítrio.  “Galileu na prisão e outros mitos sobre Ciência e religião”. Donald L. Numbers. Editora Gradiva – Trajectos. 2012


Vamos trazer agora, a discussão para um momento ainda mais atual!

O prêmio Nobel Steven Weinberg diz que os debates atuais sugerem a necessidade de uma nova abordagem para compreender a realidade.
O prêmio Nobel Steven Weinberg, físico da Universidade do Texas em Austin, estava feliz com a mecânica quântica. Mas agora ele acha que alguma teoria mais geral pode ser necessária para resolver disputas de longa data sobre o significado da matemática na mecânica quântica.

A mecânica quântica é o equivalente da polarização política na ciência.

Os eleitores ou tomam partido e discutem uns com os outros indefinidamente, ou ficam em casa e aceitam a política como ela é. Os físicos ou simplesmente aceitam a mecânica quântica e fazem seus cálculos, ou tomam partido em um debate sem fim sobre o que a mecânica quântica está realmente dizendo sobre a realidade.

Steven Weinberg costumava estar feliz com a mecânica quântica como ela é e não se preocupava com os debates. Mas, como ele tem pensado sobre isso ao longo dos anos, o prêmio Nobel de 83 anos de idade reavaliou.

“Agora eu não tenho tanta certeza”, declarou ele em 30 de outubro de 2017, em San Antonio, em uma sessão para escritores de ciência organizada pelo Council for the Advancement of Science Writing (CASW). (Revelação: sou um membro do conselho da CASW.) “Eu não estou tão feliz com a mecânica quântica como eu costumava ser, e não com o desdém de seus críticos.”

Uma razão para Weinberg achar que há a necessidade de um novo capítulo na história quântica é que aqueles que pensam que tudo está bem com a mecânica quântica tomam diferentes lados nos debates sobre o assunto.

“É um mau sinal, em particular, que os físicos que estão felizes com a mecânica quântica e não veem nada de errado com ela não concordem uns com os outros sobre o significado da mecânica quântica”, diz Weinberg.

A mecânica quântica despertou consternação desde seus primórdios. Há mais de um século, físicos como Max Planck, Albert Einstein e Niels Bohr mostraram que a física padrão do século XIX era inadequada para explicar várias características do calor, da luz e dos átomos. Na década de 1920, outros físicos, incluindo Werner Heisenberg, Erwin Schrödinger, Paul Dirac e Max Born, desenvolveram as primeiras realizações na verdadeira matemática quântica que hoje está na base da compreensão física de quase tudo. Mecânica quântica, observou Weinber, é a “base da nossa compreensão não só dos átomos, mas também dos núcleos atômicos, condução elétrica, magnetismo, radiação eletromagnética, semicondutores, supercondutores, estrelas anãs brancas, estrelas de nêutrons, forças nucleares e partículas elementares”.

Mas o poder explicativo da teoria quântica chegou a um preço substancial: a necessidade de aceitar a estranheza contra intuitiva sobre a realidade que muitos físicos, incluindo pioneiros como Einstein e Schrödinger, se recusaram a aceitar.

Um aspecto censurável era a rejeição quântica ao determinismo newtoniano, a crença de que todos os eventos são totalmente determinados por circunstâncias precedentes. Você pode calcular exatamente onde uma bola de beisebol cairá, por exemplo, se você souber sua velocidade e sentido quando ela é atingida pelo bastão. A mecânica quântica, ao contrário, impõe um elemento probabilístico na descrição dos processos naturais. Quando um elétron salta fora de um átomo, ninguém pode prever exatamente em qual direção o elétron irá; a mecânica quântica permite apenas que você calcule a probabilidade que ele vá em uma direção ou em outra. Uma fórmula matemática chamada função de onda, fornece as instruções para calcular onde um elétron possa estar. Quando você faz uma medição do elétron, é mais provável encontrá-lo onde sua onda de probabilidade é mais intensa. Medições repetidas encontrarão uma gama de resultados correspondente às probabilidades que a matemática quântica especifica.

Einstein objetou dizendo que deus não joga dados. Ele ainda se opôs a outro aspecto estranho da mecânica quântica, envolvendo sua descrição de pares de partículas separadas no nascimento. Dois fótons que emergem de um mesmo átomo, por exemplo, poderiam voar para muito distante, e ainda compartilhar de uma única descrição quântica; fazer uma medição em um pode revelar algo sobre o outro, não importa o quão longe eles estão.

As tentativas de explicar estes enigmas caem em duas grandes categorias, disse Weinberg: “instrumentista” e “realista”. Instrumentistas afirmam que a função de onda é meramente uma ferramenta para calcular os resultados de experimentos, não há nenhuma maneira de saber mais nada sobre a realidade. Os devotos da abordagem realista alegam que a função de onda é uma coisa real no mundo, evoluindo ao longo do tempo e, em um nível fundamental, é responsável por aquilo que está realmente acontecendo.

Weinberg acha a visão instrumental pouco atraente. É “tão feio imaginar que não temos conhecimento de qualquer coisa lá fora, só podemos dizer o que acontece quando fazemos uma medição”, diz ele. “A abordagem instrumentalista aceita a atitude que simplesmente não sabemos o que está acontecendo lá fora.”

Por outro lado, a visão realista diz o que está acontecendo “lá fora”, mas à custa de uma enorme complexidade sob a forma de um número incontável de fluxos de realidade independentes. “O que está acontecendo lá fora é uma função de onda que está progredindo com o tempo de uma maneira perfeitamente determinista, mas incrivelmente complicada”, diz Weinberg. Nesta visão, todos os resultados possíveis dos processos quânticos (isto é, tudo) acontecem em um fluxo ou outro (mesmo que ninguém esteja ciente de nenhum dos outros fluxos, ou “histórias”).

Weinberg preferiria uma realidade com uma história.  Mas, tirando essa preferência, a abordagem realista não explica por que os resultados das medições observam as regras de probabilidade quântica. Se tudo realmente acontece nas várias histórias, não parece haver nenhuma razão para que as regras quânticas se apliquem dentro de um único fluxo.

Weinberg, acha que pode haver algo além da mecânica quântica, uma teoria mais profunda que introduz as probabilidades em um nível fundamental, ao invés de exigir que um ser humano faça medições para fazer as probabilidades se manifestarem. E há uma linha de pesquisa, a tentativa de generalizar a mecânica quântica ao longo daquelas linhas. Mas, até agora, não surgiu uma teoria convincente que consiga generalizar a mecânica quântica.

Talvez o que restabelecerá a Teoria Quântica de hoje se encaixe a qualquer momento. Ou talvez não. “Talvez será apenas o jeito de dizer o que está ruim na Teoria”, diz Weinberg, “e a própria teoria está certa”.

Ou possivelmente há uma surpresa no caminho.

“Há sempre uma terceira possibilidade”, Weinberg disse, “isso é, há outra coisa completamente diferente, que vamos ter uma revolução na ciência a qual tanto é uma ruptura com o passado como a mecânica quântica é uma ruptura com a física clássica. É uma possibilidade. Pode ser que um artigo científico de um estudante de graduação, amanhã vai colocá-la em questão. Por definição, não sei o que seria.”

Em todo caso, observou Weinberg, há um perigo em avaliar qualquer teoria em termos de preconceitos filosóficos contemporâneos. A gravidade newtoniana, destacou Weinberg, era considerada inaceitável por muitos cientistas de sua época.

 “A teoria de Newton … parecia desagradável para seus contemporâneos”, disse Weinberg. A gravidade newtoniana era a ação à distância, sem nenhum empurrão ou puxão tangível guiando os planetas em suas órbitas. Isso “parecia a introdução de um elemento oculto na ciência e foi rejeitado por essa razão pelos seguidores de Descartes”, afirmou o prêmio Nobel. Além disso, “a força da gravitação era algo que não podia ser deduzida de considerações filosóficas fundamentais e foi rejeitada em parte por essa razão pelos seguidores de Leibniz”. E Newton também acabou com os sonhos de Kepler e outros ao deduzir o tamanho das órbitas planetárias a partir de princípios fundamentais.

Ainda assim, ao longo do tempo, a teoria de Newton compilou uma impressionante lista de sucessos (muito parecido com o que mecânica quântica tem feito).

“Ao final do século XVIII, estava perfeitamente claro para todos que a teoria de Newton estava correta, ou pelo menos uma aproximação espetacularmente bem-sucedida”, disse Weinberg. “Podemos tomar a lição de que não é realmente uma boa ideia a de manter novas teorias físicas rigorosamente de acordo com um padrão filosófico preexistente. Temos que avançar com ela e ver onde ela nos leva, e ver se teremos ou não de mudar nossos padrões filosóficos.”



Ou seja, é claro que não podemos fantasiar e criar aberrações patéticas, sobre o termo quântico(a), como alguns aspectos já citados nesse texto: dietas quânticas, exercícios quânticos, massagens quânticas...até colchões com essa terminologia, existem para agradar aqueles que por ignorância científica, ou por desejo maior em crer do que de saber, se iludem com serviços, conceitos e produtos que contenham essa palavra.

Por outro lado, muito bem ilustrado, pelo Nobel Weinberg, também não podemos nos ater à prática estática científica. Não é producente que não admitamos novas prerrogativas filosóficas, se queremos de fato evoluir e compreender novos aspectos da mecânica quântica da física.

Então talvez o grande segredo, seja realmente o de ter um certo equilíbrio entre as possibilidades que ainda irão se apresentar e o que já somos capazes de conceber e compreender por enquanto. Estamos apenas engatinhando nesses estudos, ainda não existem postulações definitivas e nem tão pouco atribuições finais à nenhum aspecto imutável da mecânica quântica, mas também não podemos tornar essa prática curricular acadêmica da física, em um verdadeiro circo aberto de crenças, filosofias vazias e ou religiosas e toda a carga social de desinformação e perpetuação da ignorância, que isso pode trazer. 

Mas então o que há de factível, de realmente prático sobre a mecânica quântica da física, que podemos observar em nossos dias atuais e também prospectar para o futuro?

O Professor Rainer Blatt lidera uma das equipes mais produtivas do mundo no campo das tecnologias quânticas. [Imagem: Universidade de Innsbruck]

Segunda Revolução Quântica:

A tecnologia quântica está destinada a compor o futuro no século 21?

O Professor Rainer Blatt, um físico quântico de renome internacional, líder de uma equipe que conta entre seus feitos o primeiro simulador quântico real e um processador quântico com 14 qubits, não tem nenhuma dúvida quanto a isso.

Na verdade, ele esclarece que se tratará de uma "Segunda Revolução Quântica".

Nesta entrevista ele esclarece o que a física quântica já representa em termos de tecnologia e quais avanços ele espera para os próximos anos.

A primeira revolução quântica estabeleceu os fundamentos físicos para desenvolvimentos como os chips de computador, lasers, ressonância magnética e tecnologias de comunicações. O que exatamente significa uma Segunda Revolução Quântica?

Blatt - Até agora, todas as tecnologias que você mencionou derivam sua utilidade da propriedade de onda sobre a qual a física quântica se baseia. Embora elas não sejam reconhecidas como tais, as tecnologias quânticas já estão, portanto, disponíveis e, sem elas, muitos dos nossos instrumentos não seriam possíveis.

A Segunda Revolução Quântica tira proveito do fenômeno do emaranhamento [ou entrelaçamento quântico, a propriedade de interconexão entre partículas mesmo depois que elas são separadas por qualquer distância]. Hoje, o emaranhamento é a base para muitas novas aplicações potenciais, como comunicações quânticas, meteorologia quântica e computação quântica. A Segunda Revolução Quântica é geralmente entendida como sendo a realização dessas novas possibilidades.
Grandes empresas, como Google, já estão investindo em computadores quânticos. [Imagem: Julian Kelly]

Quanto tempo levará para que a Segunda Revolução Quântica produza aplicações e produtos comercializáveis?

Blatt - Aplicações e produtos comercializáveis já estão disponíveis no domínio das comunicações quânticas, o que significa que esses aparelhos já podem ser adquiridos no comércio e usados.

O uso do emaranhamento para a matéria - e não apenas para os fótons - irá transformar a meteorologia, fornecendo sensores mais sensíveis e de resposta mais rápida.

Inicialmente, isso irá produzir processadores quânticos pequenos, e depois processadores quânticos grandes para uma ampla gama de aplicações, por exemplo simulações. Os processadores quânticos serão inicialmente usados para resolver uns poucos, mas importantes, problemas especiais, mas no futuro mais distante serão usados também para cálculos universais.

Na verdade, não há nenhum obstáculo discernível para a concretização das tecnologias quânticas. Sistemas cada vez mais complexos estão sendo elaborados. Isto inclui o desenvolvimento e uso de novas tecnologias e métodos que anteriormente não eram possíveis. Conforme as tecnologias quânticas se tornarem mais amplamente disponíveis, as ideias para o seu uso e suas aplicações surgirão rapidamente.

Quais mudanças de grande alcance para a sociedade e para a economia você espera da Segunda Revolução Quântica?

Blatt - Inicialmente essas tecnologias vão levar a aplicações de computação maiores e melhores, o que vai gerar melhorias contínuas nas ciências.

É difícil prever qual será impacto de longo alcance na sociedade e na economia. As mudanças trazidas pelo desenvolvimento do laser foram igualmente imprevisíveis. No início de 1960, o laser ainda era visto como uma solução para um problema desconhecido. Hoje, pouco mais de cinquenta anos mais tarde, os lasers se tornaram uma parte indispensável das nossas vidas. Espero que as tecnologias quânticas se desenvolvam ao longo de linhas semelhantes.
Já existe uma convergência entre eletrônica e computação quântica que deverá acelerar a adoção das novas tecnologias. [Imagem: Meenakshi Singh et al. 10.1063/1.4940421]

A Segunda Revolução Quântica vai beneficiar somente países altamente desenvolvidos e regiões que investem pesadamente em pesquisa de ponta?

Blatt - Em última instância, todos serão beneficiados. Mas, como todos os desenvolvimentos, somente os países e regiões que desempenham um papel no desenvolvimento e aperfeiçoamento dessas tecnologias irão inicialmente colher benefícios - incluindo lucros no sentido comercial.

Vamos precisar de pesquisa de ponta por algumas décadas, e isso implica um grau de compromisso financeiro, institucional e, acima de tudo, pessoal, a fim de explorar o potencial das tecnologias quânticas.
Testes com telecomunicações quânticas via satélite estão em andamento com vistas à construção de uma internet quântica. [Imagem: Centre for Quantum Technologies/NUS]


A Google está a caminho de avanço do computador quântico até o final de 2017

A Google está liderando o bando quando se trata de computação quântica. A empresa está testando um processador de 20 qubits – seu chip quântico mais poderoso até agora – e está em busca de ter um chip de 49 qubits de trabalho até o final deste ano.

Os qubits, ou bits quânticos, podem ser uma mistura de 0 e 1 ao mesmo tempo, tornando-os potencialmente mais poderosos do que os bits clássicos.

E se tudo ocorrer como o planejado, o chip de 49 qubits fará da Google a primeira a construir um computador quântico capaz de resolver certos problemas que estão além das habilidades dos computadores comuns. A Google estabeleceu esse objetivo ambicioso, conhecido como “supremacia quântica”, em um artigo publicado em julho passado.

Alan Ho, engenheiro do laboratório quântico de IA (inteligência artificial) da Google, revelou o progresso da empresa em uma conferência de computação quântica em Munique, na Alemanha. Sua equipe atualmente está trabalhando com um sistema de 20 qubit com uma “fidelidade de dois qubit” de 99,5 por cento – uma medida de como o processador é propenso a erros, e uma classificação maior equivale a menos erros.

Para a supremacia quântica, a Google precisará construir um sistema de 49 qubits com uma fidelidade 2-qubits de pelo menos 99,7 por cento. Ho está confiante de que sua equipe irá entregar este sistema até o final deste ano. Até agora, o melhor esforço público da empresa era um computador de 9 qubits construído em 2015.

O plano de 2015

O campo da computação quântica está sendo submetido atualmente a um agito e os engenheiros da Google, sabendo dessas movimentações de bastidores, estabeleceram silenciosamente um plano para dominar a área.

Desde 2015 a multinacional de tecnologia está construindo um dispositivo que inaugurará uma nova era para a computação. É um computador quântico, o maior já feito, projetado para provar de uma vez por todas que as máquinas que exploram a física quântica podem superar os supercomputadores atuais.

A revolução da computação quântica vem acontecendo há muito tempo. Na década de 1980, os teóricos perceberam que um computador baseado na mecânica quântica tinha o potencial de superar os computadores comuns ou clássicos em determinadas tarefas. Mas construir um era outro assunto. Apenas recentemente um computador quântico que poderá vencer um clássico que passou de uma mera curiosidade de laboratório para algo que realmente poderia acontecer. E tudo indica que a Google quer criar o primeiro.

Os detalhes técnicos do plano da empresa são secretos, e a Google não quis detalhar muito além do que está neste artigo de novembro do ano passado da New Scientist, segundo a revista. Mas os pesquisadores contatados pela reportagem da publicação acreditam que está logo ali na frente um avanço, e para esse palpite eles estão seguindo informações colhidas em apresentações, conferências e reuniões privadas.

“Em algum lugar da Califórnia, a Google está construindo um dispositivo que inaugurará uma nova era para a computação. É um computador quântico, o maior já feito, projetado para provar de uma vez por todas que as máquinas que exploram a física exótica podem superar os maiores supercomputadores superiores do mundo”, escreveu Jacob Aron para o periódico.

Supremacia quântica e superposição quântica

“Eles são definitivamente os líderes mundiais atualmente, não há dúvida sobre isso”, diz Simon Devitt no RIKEN Center for Emergent Matter Science, no Japão. “É se a Google perder? Se a Google não é o grupo capaz de fazer isso, então algo deu errado”, concluiu.

E nós já fomos apresentados a um vislumbre das intenções da empresa. Em abril do ano passado, seus engenheiros silenciosamente publicaram um artigo detalhando seus planos. Seu objetivo, audaciosamente chamado de “supremacia quântica”, é construir o primeiro computador quântico capaz de realizar uma tarefa que nenhum outro computador clássico pode.

“[O artigo] É um plano para o que eles estão intentando fazer nos próximos dois anos”, diz Scott Aaronson, da Universidade do Texas, em Austin, que discutiu os planos da empresa de informática com a equipe de reportagem da New Scientist.

Mas como eles vão fazer isso?

Os computadores que usam a física quântica processam os dados com os chamados “bits quânticos” ou “qubits”. Ao contrário dos bits atuais, essas máquinas podem armazenar, além do 0 ou 1 separados como é hoje, uma mistura de 0 e 1 ao mesmo tempo graças ao princípio da superposição quântica. É esse potencial extra que dá aos computadores quânticos a vantagem em certos problemas, como o trabalho com números gigantescos.

Mas computadores comuns também são bastante bons em tais tarefas. Mostrar que os computadores quânticos são melhores exigiria milhares de qubits, o que está muito além da nossa habilidade técnica atual.

Em vez disso, o Google quer reivindicar o prêmio com apenas 49 qubits. Esse ainda é um objetivo ambicioso – ano passado, eles anunciaram um computador de 9 qubits, mas um computador ao alcance.

A memória de Edison é insuficiente

Qualquer pequena variação nos dados de entrada para esses circuitos quânticos pode produzir uma resultado de saída massivamente diferente, por isso é tão difícil para um computador clássico trabalhar com aproximações para simplificar o problema. As aproximações não são próximas. “Eles estão fazendo uma versão quântica do caos”, diz Devitt. “O resultado é essencialmente aleatório, então você precisa calcular tudo”.

Para empurrar a computação clássica até o seu limite, a Google voltou-se para Edison, um dos supercomputadores mais avançados do mundo, alojado no Centro de Computação Científica da National Energy Research dos EUA. A Google o fez simular o comportamento de circuitos quânticos em matrizes cada vez maiores de qubits, até chegar a uma matriz de 6 × 7 de 42 qubits.

Esta computação é difícil porque, à medida que o tamanho da matriz aumenta, a quantidade de memória necessária para armazenar todos os infla rapidamente. Uma matriz de 6 × 4 precisava de apenas 268 megabytes, menos do que encontrado no seu smartphone. A matriz de 6 × 7 exigiu 70 terabytes, aproximadamente 10.000 vezes superior ao de um PC high-end de hoje.

A Google parou por lá com os cálculos porque o próximo tamanho é atualmente impossível: uma matriz de 49 qubits (uma matriz de 7×7 de bits quânticos simulados) requereria 2,252 petabytes de memória, quase o dobro do maior supercomputador do mundo. Assim, se os técnicos da empresa pudessem resolver o problema com um computador quantum de 50 qubit, eles terão superado todos os outros computadores existentes!

O início de uma nova era convencional?

Ao estabelecer este teste objetivo, a Google espera evitar os problemas que afligiram reivindicações anteriores de computadores quânticos superando os computadores ordinários – inclusive algumas feitas pela própria Google.

Ano passado a empresa se viu envolvida em um imbróglio desses. Em 2013, a empresa anunciou que resolveu determinados problemas 100 milhões de vezes mais rápido do que um computador clássico, usando um controverso supercomputador da D-Wave, um dispositivo comercialmente disponível com uma história controversa. Especialistas imediatamente rechaçaram os resultados, alegando que aquela não eram uma boa comparação.

A Google comprou o seu computador D-Wave Two em 2011 da D-Wave, empresa de Burnaby no Canadá e a única a vender um equipamento desses. O objetivo era descobrir se ele poderia ser usado para melhorar os resultados de pesquisa e de inteligência artificial, conforme anunciou a gigante. No ano seguinte, a empresa contratou John Martinis na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, para projetar e construir supercondutores com qubits. “Os computadores da D-Wave, que são baseados em circuitos de supercondutores, exibem comportamento quântico, mas não estava claro na ocasião se seu projeto pode realmente tira proveito da mecânica quântica para calcular mais rápido do que um PC comum”.

E os planos da Google para conquistar uma supermáquina realmente quântica foram revelados em 2014. “Os qubits deles estão a caminho de serem de qualidades muito melhores”, diz Aaronson.

Martinis e colegas da Google estão agora tentando alcançar a supremacia quântica com 50 qubits, e muitos acreditam que eles chegarão logo a esse objetivo. “Eu acho que isso é realizável dentro de dois ou três anos”, disse Matthias Troyer do Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Zurique. “Eles mostraram os passos concretos sobre como eles vão fazer isso”, informou o cientista à publicação.

A equipe de Martinis discutiu e estabeleceu uma série de prazos para alcançar esse marco, disse Devitt. O primeiro foi até o final do ano passado. “Eu vou ficar otimista e dizer talvez no final do próximo ano”, acredita o pesquisador da Macquarie University. “Se o fizermos até nos próximos cinco anos, esse será um tremendo avanço”.

Correção de erros quânticos

O primeiro experimento bem sucedido da supremacia quântica não nos dará computadores capazes de resolver qualquer problema imaginável, já que com base nas teorias atuais, essas precisarão ser máquinas muito maiores. Mas construir um computador quântico menor e funcional pode gerar inovação que irá beneficiar computadores existentes que, assim, poderiam vir a ter maior capacidade de cálculo, dando à computação convencional o início de uma nova era.

Aaronson compara-a com a primeira reação nuclear auto-sustentável, alcançada pelo projeto de Manhattan em Chicago em 1942. “Pode ser uma coisa que vai fazer com que as pessoas digam: ‘se queremos um computador quântico completo, vamos falar de números: quantos Bilhões de dólares?’ “, ele diz.

Resolver os desafios da construção de um dispositivo de 50 qubts irá preparar a Google para construir algo maior. “É um progresso absoluto na construção de uma máquina totalmente escalável”, diz Ian Walmsley, da Universidade de Oxford.

Para que os computadores quânticos sejam verdadeiramente úteis a longo prazo, também precisamos de uma correção robusta de erros quânticos, uma técnica para mitigar a fragilidade dos estados quânticos. Martinis e outros já estão trabalhando nisso, mas demorará mais do que o previsto para alcançar a “supremacia quântica”.

Uma explicação abrangente do porquê se faz necessária tal correção tornaria esse artigo extenso demais. Vamos resumir usando como base um artigo de Jacob Aron de 2016.

Os computadores quânticos armazenam informações com bits quânticos ou qubits, como já dissemos. Ao contrário dos bits binários, que armazenam 0 ou 1, os qubits podem manter uma mistura de ambos os estados ao mesmo tempo (0 e 1), para aumentar seu potencial de computação. Assim, enquanto em um computador convencional usando dois bits pode-se escrever quatro instruções de código possíveis: (00, 01, 10 e 11), já com um computador quântico também se pode escrever e usar as “superposições” das instruções clássicas do código binário, tais como:  01 + 10 ou 00 + 11. Isso requer a criação de emaranhamento quântico entre duas partículas. Mas os qubits são frágeis: a natureza quântica deles significa que não podem manter os dados por muito tempo antes que erros apareçam.

Então, se pesquisadores que desejam construir computadores em larga escala inventarem a correção de erros quânticos (QEC) eficiente, isso implicará o grande avanço para a computação quântica.

A técnica QEC codifica um pouco de informação quântica usando muitos qubits físicos. Assim, um código é projetado para fornecer espaço de movimento, permitindo recuperar erros. Um conceito semelhante é usado para lidar com erros em bits binários em discos rígidos e DVDs, mas as coisas são mais difíceis no reino quântico. As regras da mecânica quântica dizem que você não pode ler diretamente o estado de um qubit sem destruí-lo – é como abrir a caixa para dar uma olhada no gato de Schrödinger. Isso significa que precisamos de códigos mais sofisticados do que em leituras de DVD’s para computadores quânticos.

As demonstrações de QEC até agora não foram capazes de prolongar a vida dos dados armazenados em um qubit, uma vez que a complexidade extra de executar as correções introduziu novos erros que eliminaram qualquer benefício. “Há uma espécie de coisa de frango e ovo, para corrigir os erros, você precisa de uma coleção maior de bits quânticos”, diz Rob Schoelkopf, da Universidade de Yale. “Então, infelizmente, há mais coisas que podem dar errado”.

A passos largos

“As coisas realmente mudaram muito mais rápido do que eu esperava”, diz Simon Devitt, da Macquarie University, em Sydney, Austrália, à New Scientist. Agora que o Google e outras empresas envolvidas com a computação quântica dominaram grande parte da ciência fundamental por trás da criação de qubits para supercondutores de alta qualidade, o grande desafio que enfrentam essas empresas está em ampliar esses sistemas e reduzir suas taxas de erro.

“É importante não se deixar levar por números de qubits”, diz Michele Reilly, CEO da Turing Inc., uma start-up quântica. É impossível aproveitar o poder dessas máquinas de forma útil sem uma correção de erros, disse ela – uma técnica que mitiga a natureza inconstante da mecânica quântica.

Ho disse que não será antes 2027 que teremos computadores quânticos corrigidos por erros, então os dispositivos úteis ainda estão longe. Mas se a Google puder ser a primeira a demonstrar a supremacia quântica, mostrando que os qubits realmente podem vencer os computadores comuns, isso será um grande avanço científico.


A IBM apresentou algumas novidades relacionadas à computação quântica. A primeira delas diz respeito a um novo protótipo de processador de 50 bits quânticos (qubit), um salto bastante significativo em relação ao modelo anterior de “apenas” 17 qubit. O objetivo de um computador quântico é realizar tarefas complexas com mais agilidade e precisão do que supercomputadores convencionais.

O processador foi um dos dois produtos anunciados hoje pela IBM. O outro, também parte do programa IBM Q, é a disponibilização online de um processador de 20 qubit. Com isso, os clientes poderão usufruir remotamente de recursos avançados de operações quânticas de alta fidelidade, com cálculos de coerência ocorrendo em apenas 90 milissegundos.

A intenção da IBM é oferecer sistemas de computação quântica em aplicações práticas exploráveis. Essa é a terceira fase do projeto, que já disponibilizou online sistemas de 5 e 16 bits quânticos no que foi o mais avançado ecossistema público de computação quântica já lançado.


Sistema quântico de 50 qubit da IBM.

“Nós estamos, e sempre estivemos, focados em construir tecnologia com o potencial de criar valor para os nossos clientes e para o mundo”, afirmou o vice-presidente de inteligência artificial da IBM Q e IBM Research, Dario Gil. “A habilidade de operar de forma confiável diversos sistemas quânticos e coloca-los online não era possível há alguns anos. Agora, nós escalamos os processadores IBM para a até 50 qubits graças a recursos incríveis de ciência e engenharia.”


China realiza primeira comunicação quântica criptografada entre Terra e espaço

A agência de notícias oficial do governo chinês, Xinhua News, anunciou hoje a realização da primeira distribuição de chaves quânticas de criptografia entre a Terra e um satélite. Com a realização, duas estações localizadas na China puderam se comunicar com sigilo absoluto, com o satélite intermediando o envio das mensagens. 

Trata-se da primeira vez que uma comunicação desse tipo é realizada. Ela foi feita por meio do satélite QUESS, lançado há quase um ano justamente para conduzir experimentos desse tipo.

De acordo com a agência chinesa, ela pode ser o primeiro tijolo numa estrutura global de comunicações quânticas. Mais detalhes sobre os aspectos científicos da comunicação foram publicados no jornal científico Nature
Segundo a Reuters, as duas estações que se comunicaram por meio do satélite estavam localizadas entre 645 quilômetros e 1.200 quilômetros dele (a distância é dada como um intervalo porque o satélite se movia enquanto a transmissão acontecia). Antes disso, o recorde de distância para envio de mensagens dessa maneira era de 307 quilômetros. A taxa de transmissão, por sua vez, foi 20 vezes mais rápida do que poderia se esperar de cabos de fibra óptica cobrindo a mesma distância. 

Para garantir o sigilo das comunicações, o satélite usa princípios da física quântica. As informações são transmitidas por meio de fótons, partículas cujo estado muda quando elas são observadas. Como o estado dos fótons é que contém a mensagem, ela é destruída caso seja "bisbilhotada". Nas palavras da agência chinesa, "uma vez interceptado ou medido, o estado quântico da chave de criptografia muda, e a informação interceptada se autodestrói". 

Corrida espacial quântica

De acordo ainda com a Xinhua (agência espacial chinesa), o QUESS deve ser apenas o primeiro satélite quântico que o país lança. Ele conseguiu realizar os três experimentos que foi criado para fazer com um ano de antecedência, o que teria motivado o país a investir mais em projetos semelhantes. Segundo a agência, o próximo objetivo é realizar comunicações quânticas intercontinentais mediadas por satélites como o QUESS. 

Como a Reuters também aponta, a realização ainda pode ser entendida pelos Estados Unidos como uma ameaça. O Departamento de Defesa dos EUA vem notando os avanços do país nessa tecnologia, e acredita que seus desenvolvimentos têm o objetivo de impedir que os adversários usem seus recursos espaciais num eventual embate. 

Mesmo assim, o sistema via satélite não é a única tecnologia de comunicação quântica que a China vem explorando. No final de julho, o país estreou uma rede terrestre de comunicação quântica com mais de 2.000 quilômetros de cabos. Ela já é capaz de enviar mensagens a mais de 200 terminais diferentes no país. 


Como podemos ler nessa resenha crítica, muito está sendo pesquisado, estudado e demonstrado hoje, principalmente nos ramos tecnológicos, acerca dos primeiros ensaios filosóficos científicos, sobre a mecânica quântica da física. Mas nenhum desses avanços parece de fato estar ligado à conceitos filosóficos como os religiosos ou esotéricos por exemplo.

Quisera eu que a questão pseudo-científica fosse o único problema das redes sociais. O que vemos atualmente nessas redes sociais não é somente a promoção de teorias de conspiração e um discurso forte contra a competência e potencialidade da ciência em explicar fenômenos e produzir conhecimento. As redes sociais deram abertura a retórica porca em vez da reflexão. Qualquer pessoa tem facebook, e qualquer usuário tem uma opinião sobre qualquer assunto: e na maioria das vezes falta qualidade nestas opiniões, sendo pautadas em mera especulação, crença e/ou senso-comum.

Ao mesmo tempo em que a internet democratiza informação (artigos científicos, livros e documentários), também democratiza o “fake news” e discursos de diferentes naturezas (anti-ciência, anti-semita, racista, homofobia etc). Ao mesmo tempo que as redes sociais aproximam quem está longe, distância quem está próximo.

O facebook da abertura ao vício do “curtir” e “compartilhar”, e sem que o internauta faça uma reflexão sobre o que de fato está compartilhando e apoiando com seu joinha. Assim, o facebook que deveria ser uma rede de comunicação e aproximação se tornou um grande balde de lixo anti-intelectual promovendo discursos de ódio, anti-ciência, pseudo-ciência, polarizações políticas e falsas afirmações graças a capacidade das pessoas permitir (a si mesmos) receber acriticamente conteúdos e negar afirmações que não estão alinhadas a uma concepção previamente concebida.

Ao mesmo tempo em que uma pessoa questiona a teoria da evolução por questões religiosas ou por desconhecer a definição de teoria, apoia a ideia de uma Terra plana ou que vacinas causam autismo. Há uma profunda inversão de valores intelectuais e educacionais que tem se tornado explícito nas redes sociais. Isto tem promovido não só a desonestidade intelectual, mas a informação falsa de péssima qualidade afetando diretamente nossas vidas ao adotarmos posturas acríticas via internet.

Se antigamente as pessoas – antes de ir trabalhar – liam o horóscopo para sair de seus lares tentando uma ideia de como seria o seu dia, atualmente elas observam, curtem, compartilham, consultam o youtube para ver como supostamente governos ocultos estão agindo e interferindo em suas vidas.

Não é um fenômeno novo, mas a natureza global do ambiente virtual fornece todo tipo de falsidade e informações erradas. Porém, agora elas tem um impacto internacional com maior velocidade. Enquanto escrevo este texto (dia 22/12/2018) recebi a informação falsa de que Sylvester Stallone morreu. E Stallone já se pronunciou dizendo “Ignorem essa estupidez”.

A acessibilidade a uma informação falsa se tornou mais rápida internacionalmente. Curiosamente, uma análise mais detalhada publicada por Hunt Allcott e Matthew Gentzkow mostra que mesmo as histórias de notícias falsas mais amplamente divulgadas foram vistas apenas por uma pequena fração de americanos. As pessoas divulgam o que não leem ou sequer verificam a procedência da informação. Mesmo verificando a procedência eventualmente somos pegos por notícias falsas ou enviesadas. Sem ler ou checar as fontes da informação as chances de ser pego por uma fake news aumenta substancialmente.

O impacto real do crescente interesse em notícias falsas tem sido a constatação de que o público pode não estar bem equipado para separar informações de qualidade de informações falsas. No Brasil é só observar o tanto de informação errada e falsa (veiculada pelo Whatsapp) sobre a vacinação contra a febre amarela.

A maioria dos americanos acredita ser capaz de detectar notícias falsas. Quando o Buzzfeed pesquisou estudantes de ensino médio americanos, eles também estavam confiantes de que podiam detectar e ignorar notícias falsas on-line. A realidade, no entanto, é que pode ser mais difícil do que as pessoas pensam. Mesmo aqueles que de fato reconhecem que são bombardeados por fake news tem dificuldade de reconhecê-las. As pessoas e, especialmente os jovens, tem dificuldades em separar boas fontes de informação daquelas que são questionáveis ou determinar se uma fotografia é autêntica ou fabricada.

Além disso, outras variáveis podem entrar na equação. Por exemplo, a adoção de ideologia político-partidárias afeta descaradamente a avaliação da legitimação de notícias para um grau preocupante.

Mesmo o Canadá, que tem sido uma referência ao combate ao fake news sofre com tal tendência. De acordo com a pesquisa por Eric Merkley, os canadenses estão cada vez mais polarizados ao longo de linhas ideológicas, e essa polarização tende a desencadear um raciocínio motivado – uma maneira inconsciente e tendenciosa de processamento de informações que faz com que as pessoas inteligentes acreditam em falsidades que sustentam suas ideias e ideologias – as predisposições partidárias.

De acordo com um estudo recente, quase 80% dos canadenses recebem suas notícias via on-line e quase 50% recebem notícias nas mídias sociais, uma plataforma que contribuiu bastante para a disseminação de informações erradas. Em conjunto, as condições estão claramente férteis para a disseminação de notícias falsas que vem decolando no Canadá (The Conversation).

Fiquemos atentos, ciência não é apenas opinião, não é achismo ou crença pessoal...não se fundamenta em plataformas como o youtube, facebbok, instagram e outros, ciência se faz em salas de aula, em laboratórios, observatórios e centros de pesquisas.

Infelizmente muitas pessoas ainda não despertaram para um novo momento social humano. Somos uma jovem espécie...crianças engatinhando no escuro...um breve instante perante a existência do Universo. Todos queremos fazer parte de algo maior e ao menos culturalmente, temos a necessidade direta de acreditar que não estamos sozinhos, mas ainda melhor que acreditar, é saber. Não temos mais a necessidade de ficarmos de joelho, perante o desconhecido, não temos que temê-lo, ou mesmo fomentar teorias e filosofias religiosas, apenas para que nossas vidas fiquem mais confortáveis aqui. Temos mesmo é que encará-lo em pé, com respeito, ética, coragem e inteligência.

Fique alerta!! Não é porque um conceito, produto, filosofia, ideia ou mesmo intenção, vem com as terminologias: (quântico – quântica) em suas resoluções, que é de fato demonstrável, aplicável ou confiável.

Valorizar o conhecimento é acima de tudo separar o que é fato do que é fator científico!

É ter a mente aberta, mas cética e crítica!

É saber que alguns fatores de hoje, talvez se tornem fatos amanhã!

Mas por hoje, a ciência e a pseudociência ocupam locais bem distintos dentro do que já sabemos e do que ainda poderemos saber!


27 de fevereiro de 2019

A ameaça oculta da Califórnia: vulcões de alto risco que podem irromper na próxima década

Mt. Shasta corre o risco de entrar em erupção nos próximos 30 anos, segundo um novo relatório do USGS.
Crédito: Shutterstock

Por anos, a Califórnia tem se preparado para o "grande" - o terremoto de magnitude 6,7 ou maior que deverá enviar ondas através do estado dentro do século. Mas há outra ameaça mortal que é quase tão provável - e que as pessoas podem estar muito menos preparadas para isso.

Nos próximos 30 anos, há uma possibilidade de 16% de uma erupção vulcânica de tamanho pequeno a moderado ocorrer em algum lugar na Califórnia, de acordo com um relatório do US Geological Survey (USGS) publicado segunda-feira (25 de fevereiro). Esta previsão é baseada em 5.000 anos de registros de atividade vulcânica. Cerca de 200 mil pessoas vivem ou trabalham em uma região em risco de erupção, e milhões visitam a cada ano, de acordo com o relatório.

Em comparação, há uma possibilidade de 22 por cento de que um terremoto na Falha de San Andreas - às vezes conhecido como "o grande" - aconteça dentro desse prazo.

"O potencial para causar terremotos, deslizamentos de terra, inundações, tsunamis e incêndios é amplamente reconhecido na Califórnia", escreveram pesquisadores no relatório. "O mesmo não pode ser dito das erupções vulcânicas, apesar do fato de que elas ocorrem no estado tão freqüentemente quanto os maiores terremotos na Falha de San Andreas."

Existem sistemas para detectar potenciais erupções vulcânicas - mas entender os riscos em partes específicas do estado é importante para reduzir os danos e a perda de vida de tais eventos, eles escreveram.

Há oito áreas vulcânicas em todo o estado que os especialistas dizem que estão "ameaçando" pessoas ou propriedades próximas, de acordo com o relatório. Pelo menos sete dos oito vulcões estão no topo do magma e são considerados "ativos".

Destes, o Monte Shasta, o vulcão Medicine Lake e o Centro Vulcânico Lassen, no norte da Califórnia; assim como os Salton Buttes, perto da fronteira sul, entraram em erupção nos últimos 3.000 anos e são considerados áreas de alto a muito alto risco. A região vulcânica de Long Valley, no leste, também entrou em erupção nesse período, mas é considerada de risco moderado a muito alto. E o Campo Vulcânico de Clear Lake, ao norte de São Francisco, também é considerado de alto a muito alto risco, embora não tenha entrado em erupção nos últimos três milênios.

Um vulcão pode causar danos generalizados, mesmo quando não está em erupção, de acordo com o relatório. Um vulcão em erupção pode causar chuvas balísticas de rochas, correntes rápidas de cinzas ou lava chamadas fluxos piroclásticos e chuva ácida . Mas mesmo os vulcões que não estão em erupção podem causar riscos - as áreas ao redor do vulcão podem ser instáveis ​​e causar deslizamentos de terra, por exemplo.

Embora esses efeitos sejam mais fortemente sentidos perto do local de uma erupção, deslizamentos de terra ou inundações podem atingir mais de 50 milhas (80 quilômetros) de distância, e a precipitação pode até atingir áreas de 1.600 quilômetros de distância, de acordo com o relatório.

"Os perigos vulcânicos provavelmente são mais do que um problema local, confinados em um único condado ou região", disse o relatório. "Uma erupção futura no norte da Califórnia, por exemplo, poderia afetar negativamente os recursos naturais e a infra-estrutura importante para os nossos sistemas estaduais de água, energia e transporte, e certamente exigirá um esforço de resposta multi-jurisdicional". A própria erupção, aumentando e diminuindo de intensidade ao longo do tempo, pode durar meses, anos ou décadas, assim como seus efeitos posteriores.

Embora as erupções vulcânicas não possam ser evitadas, às vezes elas podem ser previstas.

O USGS California Volcano Observatory usa receptores de GPS para registrar deformações de terra, sismômetros para medir agitação e espectrômetros para detectar as emissões de gases do solo. Um aumento na atividade em qualquer dessas três medições pode ser o primeiro sinal de que um vulcão entrará em erupção, de acordo com o relatório.

"Embora as erupções não possam ser interrompidas, medidas para limitar a exposição e aumentar a tolerância podem tornar a sociedade menos vulnerável aos seus efeitos", escreveram eles. Isso inclui a evacuação de zonas de perigo durante uma erupção, tornando a infraestrutura mais resistente a seus efeitos, limpando rapidamente após o evento e desviando lava ou removendo material combustível de seu caminho. No caso de queda de cinzas, as pessoas podem usar máscaras de partículas, evitar dirigir, isolar prédios, abrigar gado e abrigo no local.


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