Em uma conversa informal me perguntaram:
“É muito caro um telescópio?” “Onde posso comprar?”
“Precisa fazer curso pra usar um?”
“O que realmente dá pra ver?”
Há algum tempo atrás, eu fui em um encontro de astronomia livre e fiquei muito surpreso pela quantidade de pessoas que hoje, gostariam ou voltaram a observar mais ativamente o “nosso” o céu!
Era um encontro informal, onde haviam muitos telescópios montados por astrônomos com formações acadêmicas e astrônomos amadores e todos aqueles que tem interesse nas observações do céu, podiam se inscrever gratuitamente, com um limite numérico de pessoas e, participar de algumas diferentes modalidades e características de observações noturnas do espaço. Ocorreu em um parque público e fiquei muito entusiasmado, porque havia nessa noite, um céu claro e bem limpo, além de muitas pessoas...eu nunca deixei de me perguntar:
Quantos não preferem a agitação dos bares, baladas, cinemas, teatros, puteiros, restaurantes, arenas, ginásios, estádios?! Quem opta por deixar os confortos e prazeres da noite paulistana com todas as suas luzes, cores, sons e sabores, pelo silêncio e pelo passado visto no céu?!
Nesses encontros, as pessoas falam, mas de forma geral respeitam os grupos que se formam ao redor dos vários telescópios pelo campo e sussurram...respeitam o momento e a individualidade das outras pessoas e, pra mim, as vezes, isso vale mais que ouro! É como se estivéssemos em uma espécie de culto em uma grande catedral, mas os deuses são os astros do firmamento e o teto, de certa forma, nossa atmosfera; os astrônomos, os guias, os sacerdotes...Até parece mesmo uma religião, pelo estado contemplativo, silêncio, foco e concentração, além da troca...mas é CIÊNCIA mesmo!
Se você já pode participar de algo assim, sinta-se privilegiado, aproveite para assim que possível retornar e fazer novamente...se você nunca teve a oportunidade, faça logo, quando e se puder!!
Também não pude deixar de relacionar esses momentos, com a ancestralidade de nossa própria espécie, que buscava também no céu, por respostas e conclusões...o quanto fenômenos astronômicos foram observados em tempos imemoriais, e interpretados como variáveis consideradas como mágicas, místicas, ou mesmo divinas?!
Nesse encontro eu acabei revendo muitos colegas astrônomos, também revi mestres e professores, mas o mais legal é que conheci muitas pessoas, diversos entusiastas da astronomia, que já estavam com um certo nível de experiência em observações e outros ainda iniciando nessa grande ciência!
Na medida do possível, eu contribuí respondendo o que podia e sabia e algumas questões sempre são recorrentes, como as apresentadas no início desse texto. Então resolvi dividir com vocês essa experiência, contextualizá-la e apresentar um breve resumo sobre a mais importante das ferramentas astronômicas, o telescópio!
Um pouco de historia
Hoje em dia estamos acostumados a ver, volta e meia, em jornais e revistas de grande circulação e principalmente na internet, imagens do espaço sideral fotografadas pelo telescópio Hubble, um dos mais potentes instrumentos de observação astronômica inventados até hoje. Pois bem, muitos e muitos modelos de telescópios foram desenvolvidos ao longo da modernidade para que tivéssemos um modelo de observação de tão grande alcance como o que nos é oferecido pelo Hubble.
O primeiro dos modelos de telescópio especificamente criados para finalidades astronômicas foi desenvolvido por Galileu Galilei entre os anos de 1609 e 1610. Desde então, uma verdadeira “revolução” científica e cosmológica começou a se desenrolar.
Galileu Galilei (1564-1642) é tido pela maior parte dos historiadores do pensamento científico como o “pai da ciência moderna”. Isso se justifica pelo fato de ter sido ele não apenas um dos pioneiros na prática da “nova ciência”, da virada do século XVI para o século XVII, mas também o primeiro a elaborar teorias que possibilitaram uma compreensão do funcionamento do Universo radicalmente diferente daquelas da Antiguidade e da Idade Média. Galileu foi além dos estudiosos do Renascimento, que, apesar de terem corroborado a tese de que a Terra não era o centro do Universo, não conseguiram fazer observações e descrições precisas dos corpos celestes tal como Galileu fez. Com tais descrições, Galileu percebeu, inicialmente, as imperfeições da Lua (crateras, sobretudo), que era considerada até então um corpo celeste sem defeitos.
Enfim, os céus não eram perfeitos como dizia a visão aristotélica amplamente aceita até então. Em 25 de agosto de 1609, Galileu fez uma demonstração de seu primeiro telescópio para legisladores de Veneza. Esta foi a primeira atividade de divulgação astronômica de que se tem notícia, e o primeiro uso do telescópio bem documentado para astronomia.
Um outro astrônomo, um alemão nascido em 1571, também começava a contestar as ideias do geocentrismo. Seu nome era Johanes Kepler (1571-1630). Baseado em observações anteriores à invenção do telescópio, feitas por um astrônomo dinamarquês, Tycho Brahe (1546-1601), e nas ideias heliocêntricas de Copérnico de que o Sol estaria no centro do Universo, Kepler percebeu que não poderia explicar o movimento dos planetas pelo sistema Geocêntrico. Kepler formulou três leis que explicavam muito bem o movimento dos planetas.
As leis diziam:
• Os planetas giram ao redor do Sol em uma órbita elíptica, com o Sol em um dos focos;
• Os planetas “varrem” áreas iguais em tempos iguais e que suas velocidades orbitais são proporcionais às suas distâncias ao Sol .
Kepler descreveu a terceira lei no livro " <<Harmonices Mundii>> (A Harmonia dos Mundos). Quando soube do uso do telescópio por Galileu, Kepler ficou tão entusiasmado que pediu a Galileu que lhe emprestasse o instrumento, o que foi negado. Kepler, então, fabricou seu próprio telescópio (o telescópio "Kepleriano"), com duas lentes convexas, ainda melhor que o de Galileu.
Como escolher um telescopio
Um bom par de binóculos perfaz um excelente "primeiro telescópio", pelo menos até certo ponto. Os binóculos foram os únicos instrumentos óticos que eu tive no meu primeiro ano como observador do céu, e estes me pareceram ser exatamente a maneira correta de começar. Mas durante aquele tempo eu estava trabalhando na direção de um objetivo maior: construir um refletor de 150mm.
Fazer o próprio telescópio foi a única maneira de ter um naquela época. Eu percebi depois que essa limitação foi na verdade uma ótima oportunidade de aprendizado. Isto evitou que eu tivesse um telescópio muito cedo, (antes de eu saber o que fazer com ele), e me fez valorizá-lo com uma joia a despeito das coisas que um telescópio deste tamanho não pode fazer.
Mais cedo ou mais tarde todo astrônomo amador iniciante tem que encarar a questão sobre o que fazer para conseguir um bom telescópio. Esta é a decisão mais crítica que você vai tomar no seu hobby, ou nos seus estudos e pesquisas. Escolha bem e o telescópio vai oferecer-lhe uma vida inteira de noites agradáveis de exploração do céu. Escolha mal e é muito provável que ele lhe traga frustração e desapontamento e acabe sendo oferecido nos anúncios de classificados como: "Excelente condição, raramente usado".
O que fazer para tomar a decisão certa?
Isto depende mais de você do que do telescópio em si. Se você vive no quinto andar de um apartamento no centro da cidade com pouco espaço para guardar coisas e é fascinado pela Lua e planetas, você deveria ter um telescópio inteiramente diferente daquele que você teria se morasse numa fazenda em Mato Grosso com um grande e espaçoso galpão e se o seu verdadeiro amor fossem as galáxias. O dinheiro que você pode gastar, o peso que você pode carregar e a quantidade de observações que você já fez a olho nu e com binóculos são também cruciais.
A característica mais importante de um telescópio é a abertura, isto é, o diâmetro da lente principal ou do espelho. A abertura determina o brilho e a definição de tudo o que você irá observar. Um telescópio de 70 mm nunca poderá mostrar estrelas mais apagadas, ou detalhes num planeta como fará um telescópio de 150mm bem feito. Um 150mm, por sua vez, jamais poderá competir com um bom 250mm.
O aumento, não é algo a se considerar quando estiver encomendando um telescópio. Você pode fazer qualquer telescópio aumentar quantas vezes quiser usando diferentes oculares. Uma ocular é um pequeno conjunto de lentes que se acopla ao telescópio e por onde se observa os objetos. A maioria dos telescópios vem com algumas delas, e outras podem ser compradas separadamente. Mas é inútil usar um aumento muito grande num telescópio de pouca abertura. Você não verá nada a não ser um borrão aumentado várias vezes. Apenas um telescópio de grande abertura (com uma montagem sólida) pode mostrar uma imagem decente com 200x ou mais. Em todo caso, as oculares que aumentam menos são as mais fáceis de usar e as que oferecem as imagens mais agradáveis. Você usará um aumento baixo na maior parte do tempo.
A regra geral afirma que o máximo aumento útil, mesmo sob condições ideais de céu, é 20 vezes por centímetro de abertura. Isto o limita a usar 140x numa luneta de 70mm, 300x num telescópio de 150mm e assim sucessivamente. Mas ainda assim considera-se este limite muito acima do ideal.
Desconfie de qualquer telescópio anunciado pelo alto poder de aumento. Se você vir um 60mm sendo anunciado numa loja de departamentos como: "Aumenta 475x!!!", quer dizer que o fabricante acha que você é ignorante e ingênuo. Com esta atitude eles também tentam esconder várias outras deficiências do equipamento. Uma ênfase exagerada no alto aumento é certeza de que o equipamento na verdade é um “lixoscópio” de brinquedo.
Já que a abertura é tão importante, você pode imaginar que escolher um telescópio é fácil, basta escolher o de maior abertura que você encontrar! Mas na prática não é tão simples. Se o telescópio for muito pesado para transportar facilmente ou exigir muito tempo para se montar, você raramente vai usá-lo. Mesmo entre os telescópios de mesma abertura, alguns tipos são mais portáteis, outros oferecem imagens mais nítidas e outros são mais econômicos.
Diferentes tipos de telescopios
Existem muitos tipos e modelos diferentes de telescópios hoje em dia, mas de forma geral, existem três tipos de telescópios mais utilizados, são os Refratores, Refletores e Catadióptricos.
Esse tipo de telescópio é famoso por conseguir uma definição de imagem muito boa, com nitidez e contraste excelente, além disso, exigem menos manutenção e por ser um modelo fechado ele sofre menos com a condensação do ar dentro do tubo.
Geralmente são os modelos preferidos por astrônomos que querem observar a lua e os planetas.
Porém, ele tem um valor bem mais alto. Um telescópio refrator de grande porte pode custar muito caro e mesmo assim serão considerados de pequeno porte. Objetos de céu profundo como galáxias não são tão fáceis de observar com um telescópio como esse e o seu grande tubo exige uma montagem muito rígida.
Telescópios Refletores:
Por ter, geralmente, uma boa abertura, esse modelo é indicado para observação de quase todos os objetos celestes, desde planetas até objetos de céu profundo, como galáxias e nebulosas.
A grande vantagem desse telescópio é seu preço, é possível encontrar telescópios refletores com uma excelente abertura por um preço bem acessível se comparado aos modelos refratores.
Porém, eles precisam de mais cuidado e requerem manutenção quase constante, principalmente se você precisa montar e desmontar seu equipamento sempre que decidir observar o céu. É importante também prestar atenção redobrada com a sujeira, já que o tubo do telescópio ficará aberto e alguma coisa poderá sujar o espelho e atrapalhar suas experiências.
Esse é o modelo que eu possuo hoje e preciso admitir, tenho me surpreendido com ele cada vez que o aponto para o céu!
Telescópios Catadióptricos:
Esse modelo de telescópio é formado por, digamos, uma junção dos outros dois modelos. Ele é composto por lentes e espelhos. O funcionamento, apesar de se assemelhar a seus companheiros, se torna um pouco mais complexo.
Os telescópios refletores, também conhecidos por Newtonianos, são bem diferentes dos refratores, eles são formados por um tubo e no lugar da lente objetiva ele usa um espelho no fundo. Esse espelho reflete a luz que recebe para um espelho secundário pequeno que está na outra extremidade do tubo.
Esse é um modelo bem famoso e um de seus pontos mais positivo é seu tamanho reduzido, mesmo com uma boa abertura. Se compararmos um modelo Refletor e um Catadióptrico, ambos com abertura de 200mm, o Refletor vai ocupar quase todo o espaço que você tem disponível para guardar seu equipamento, enquanto o Catadióptrico geralmente vem em uma maleta e pode ser guardado em um cantinho que você tenha disponível.
Além disso, esse modelo costuma vir acompanhado de uma montagem motorizada que ajuda muito na hora de tirar fotos, tornando a astrofotografia um pouco mais fácil.
Porém, nem tudo são rosas meus amigos... Telescópios desse modelo geralmente tem uma qualidade de imagem um pouco menor, principalmente quando se observa os planetas. Mas esse não é seu maior problema, a maior desvantagem (ou vantagem dependendo de como está o seu bolso) é o preço. Um bom telescópio catadióptrico com uma abertura razoável pode chegar facilmente a faixa de 12 Mil reais (incluindo a montagem).
Onde comprar um telescopio
Existem hoje, muitas lojas especializadas em telescópios, algumas delas inclusive oferecem um breve curso de montagem e desmontagem, além de cartas astronômicas e muito suporte pós venda, também oferecem serviços de manutenção para o equipamento que comercializam. Se você tem alguma experiência com telescópios, fica mais fácil analisar os equipamentos e comprá-los, se não tem essa experiência, busque sempre por lojas e profissionais especializados.
Eu vou deixar abaixo, alguns links de lojas que eu considero como as melhores do mercado brasileiro, para se comprar um telescópio:
Como montar o seu proprio telescopio
Para muitas pessoas, comprar um telescópio é algo muito complicado por conta dos custos, mas isso jamais pode e ou deve ser um fator limitador, se a sua vontade é observar o céu.
É claro que telescópios industrializados e feitos por empresas que se dedicam a isso, serão mais estáveis e precisos, de qualquer maneira, como eu já fiz, você também pode montar o seu próprio telescópio, de forma simples e com custos inacreditavelmente reduzidos. Infelizmente no momento, não tenho como gravar um vídeo ilustrativo, demonstrando como se monta um telescópio caseiro, mas em breve com certeza farei um vídeo assim!
Por hora, encontrei alguns vídeos e espaços na internet, que considerei bem feitos e bem explicados, demonstrando como montar o seu próprio telescópio, seguem os links e videos:
WikiHow
iBahia
WikiHow
iBahia
Conclusoes
Antes de comprar ou mesmo fazer o seu primeiro telescópio, procure sempre um astrônomo profissional com formação acadêmica, ou mesmo um astrônomo amador, na verdade você deve buscar por alguém que tenha experiência em observações com telescópios e que de preferência, tenha um telescópio, onde você possa começar a compreender os conceitos de utilização desse equipamento.
Jamais se aventure a comprar um telescópio, sem conhecimentos prévios, muitas pesquisas e principalmente sem uma consultoria especializada...como dito anteriormente, existem muitos modelos diferentes, para diversos fins de observação e com características bem distintas!
Nunca se deixem levar pela empolgação e por promoções incríveis ou publicidades que prometem demais! Como também já dito anteriormente, existem muitos charlatões por aí, que prometem equipamentos incríveis, com possibilidades imensuráveis e por preços diminutos...não existe “mágica”, telescópios com preços muito reduzidos, geralmente são constituídos de materiais inferiores, montados sem a precisão adequada e invariavelmente, após a terceira ou quarta montagem, já apresentam defeitos que podem até mesmo inviabilizar as suas observações!
Espero ter contribuído com você que está pensando em ingressar nas observações! Se tiver alguma dúvida, na medida do meu possível, fico à disposição!!
Grande abraço e boas observações!!
O céu não é o limite!!
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