O interior do nosso sol ainda é um mistério para a ciência. Protegido pelas camadas externas da estrela, o núcleo nunca foi completamente compreendido. Ele está constantemente colidindo seus átomos dentro de si mesmo para produzir a luz ardente e brilhante que emana de lá.
Uma forma de tentar entender o que acontece dentro do sol é coletando neutrinos, partículas minúsculas que quase não interagem com outras formas de matéria. Por causa dessa característica, os neutrinos podem trafegar diretamente para fora do centro do sol. Um novo estudo, baseado neste princípio, mostra que os pesquisadores produziram uma das imagens mais detalhadas já feitas do misterioso interior do sol.
Os pesquisadores criaram a imagem usando o enorme detector de neutrinos no centro do experimento internacional Borexino, que fica dentro de uma cadeia montanhosa na Itália para ajudar a protegê-lo da radiação interferente. A cada segundo, 420 bilhões de neutrinos do sol atingem qualquer área de tamanho de um selo postal da superfície da Terra. No entanto, a maioria desses neutrinos passa pelo planeta como raios de luz através de uma janela.
Mesmo que normalmente não interajam com a matéria, às vezes os neutrinos interagem. O Borexino aproveita o fato de que, de vez em quando, um neutrino tem alguma chance de interagir com um elétron. O detector do projeto consiste em 100 toneladas de uma substância ultrapura que produz um pequeno clarão de luz se um neutrino atingir um dos elétrons do instrumento. Ao redor do detector estão 2.000 câmeras supersensíveis que podem registrar a intensidade dos flashes de luz, revelando quanta energia o neutrino carregava quando colidia com o elétron.
Enquanto a maioria dos experimentos prévios com neutrinos solares detectava apenas neutrinos de alta energia, o Borexino pode detectar neutrinos com uma vasta gama de energias, fornecendo um melhor exame das reações nucleares no interior do sol. O experimento coletou dados por 10 anos para fornecer a nova imagem altamente precisa de neutrinos emergindo do sol.
“Estamos basicamente olhando para o coração do sol”, celebra Andrea Pocar, físico da Universidade de Massachusetts Amherst e co-autor do estudo, em entrevista ao site Live Science.
Pocar diz que os resultados fornecerão dados valiosos para os cientistas que fazem modelos do sol. A imagem pode, por exemplo, ajudar a determinar as quantidades precisas de elementos relativamente pesados, como carbono, nitrogênio e oxigênio, no centro do Sol.
“A novidade (dessa pesquisa) é incremental, não é um salto, mas é a coroação de mais de 10 anos de coleta de dados com o experimento para mostrar todo o espectro de energia do Sol. Nossos resultados reduzem a incerteza, o que talvez não seja chamativo, mas é um tipo de avanço que muitas vezes não é reconhecido o suficiente na ciência. O valor é que as medições se tornam mais precisas porque, com mais dados e graças ao trabalho de jovens físicos dedicados, temos uma melhor compreensão do aparato experimental”, aponta o pesquisador em matéria publicada no site Eurekalert.
Em pesquisas anteriores sobre as partículas do sol que chegam até nós, os pesquisadores haviam tentado estudar os tipos de partículas de maneira individual. “Era como tentar caracterizar uma floresta tirando uma foto de cada tipo individual de árvores”, observa Pocar. “Múltiplas fotos dão uma idéia de uma floresta, mas não é o mesmo que a foto de toda a floresta. O que fizemos agora foi tirar uma única foto que mostre toda a floresta, todo o espectro de todos os diferentes neutrinos em um. Em vez de dar zoom para ver pequenos pedaços, vemos tudo de uma vez. Entendemos nosso detector tão bem agora que estamos confortáveis e confiantes de que nossa única imagem é válida para todo o espectro de energias de neutrinos”, completa.
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