Por JuCa
O que chamamos de sítio arqueológico é um local onde foram encontrados vestígios de ocupação humana, seja esta ocupação antiga ou recente. É claro que, se o arqueólogo for realmente classificar todos estes lugares, classificaríamos até mesmo nossa própria casa como um patrimônio público. Portanto, não é qualquer lugar com vestígios que são registrados como sítios arqueológicos, mas apenas aqueles que apresentam importância científica para compreensão da história da humanidade. São estes sítios arqueológicos (com raras exceções) que são estudados pelos arqueólogos. Já existem mais de 20 mil sítios arqueológicos registrados em território brasileiro, de acordo com o IPHAN.
Neste texto mostramos alguns tipos de sítios arqueológicos comuns no Brasil e no mundo. AS categorias as quais eles foram divididos são aquelas mesmas que nós arqueólogos e arqueólogas geralmente utilizamos para descreve-los antes da realização de um estudo científico mais detalhado. Portanto, essas categorias não focam nos artefatos encontrados no sítio, mas sim nas características formais do sítio. Os vestígios encontrados no sítio irão, ao final de uma pesquisa arqueológica, possibilitar a identificação dos grupos culturais que o ocuparam. É importante notar que um mesmo sítio arqueológico pode ter sido ocupado por mais de um grupo cultural ao longo do tempo.
Veja abaixo as categorias gerais de sítios arqueológicos mais conhecidas:
Sítios históricos/coloniais
Os sítios históricos são assim chamados, e limitados, principalmente pela estrutura de uma construção ou até pelo entorno de importância histórica e cultural das sociedades viventes. Fazendas, quilombos, igrejas, praças, casarões, castelos,, cemitérios, palácios etc. Estes são tipos de locais que podem ser considerados sítios arqueológicos, desde que este local seja reconhecido pelos arqueólogos como um local de importância histórica e que seja tombado.
As ruínas da Redução de São Miguel Arcanjo são um exemplo de sítios histórico bem conhecido no Brasil, localizado em São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul. Crédito: Flickr / Eduardo Aigner / creativecommons.org
Sítios abrigados
Um sítio abrigado é simplesmente definido pela presença de uma estrutura natural que o proteja, pelo menos parcialmente, do sol e da chuva – como paredões rochosos e cavernas (no segundo caso também chamados de sítios em caverna). No caso de sítios em abrigo é relativamente comum a presença de representações rupestres, como pinturas e gravuras. Os sítios abrigados podem ser tão antigos quanto os humanos.
O sítio arqueológico Toca do Boqueirão da Pedra Furada, localizado no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, é o sítio abrigado sob rocha mais famoso do Brasil. Ele possui dezenas de pinturas rupestres e é o mais antigos do Brasil, datando até 40 mil anos. Crédito: Renato Grimm.
Sítio a céu aberto
O sítio a céu aberto é o oposto do sítio em abrigo, ou seja, sem presença de estruturas naturais que protejam os vestígios do sol e da chuva. Sítios a céu aberto, se não houver artefatos expostos na superfície do solo, ou alterações significativas no relevo do terreno, só serão identificados através de algum tipo de intervenção no solo. Sítios a céu aberto podem ser tão antigos quanto a própria humanidade.
O sítio arqueológico Abreu & Garcia, localizado em Campo Belo do Sul, em Santa Catarina, é um exemplo de sítio a céu aberto identificado por modificações do relevo que formam montículos artificiais no local. Crédito: Projeto Jê Landscapes of Southern Brazil.
Sítio megalítico
Um tipo de sítio arqueológico a céu aberto que pode ser facilmente reconhecido é o sítio megalítico. Talvez os exemplos mais conhecido de estruturas megalíticas sejam a famosa Stonehenge, na Inglaterra, ou as gigantes estátuas (os moais) da Ilha de Páscoa, no Oceano Pacífico.
O famoso sítio arqueológico de Stonehenge, na Inglaterra (Reino Unido), com cerca de 5 mil anos de idade, é um exemplo de estrutura megalítica. Créditos: English Heritage.
Os moais, como são conhecidas as estátuas gigantes com 700 anos de idade, são mais um exemplo de estruturas megalíticas que, juntas, formam sítio arqueológicos na Ilha de Páscoa. Crédito: Original Travel.
Até poucos anos atrás não se sabia da existência desse tipo de sítio no Brasil. Mas há pouco anos atrás foram identificados alguns sítios megalíticos no estado do Amapá. Os sítios megalíticos são assim chamados por apresentarem estruturas formadas por blocos monumentais de rochas dispostas de maneira organizada. No, Brasil estes sítios parecem ser bem recentes, de cerca de 1.000 anos atrás.
Sítio megalítico Rego Grande, no Amapá. Crédito: Mariana Petry Cabral/FAPESP.
Sítio de terra preta
Ainda em território amazônico, podemos identificar os sítios de terra preta. Estes sítios são assim classificados basicamente pelo fato de que o solo em do sítio e seu entorno são extremamente escuros, resultante do acumulo de matéria orgânica, devido às atividades realizadas pelos grupos que ocuparam estes locais da Amazônia. Estes sítios raramente têm datações mais antigas de 4.000 mil anos atrás. Nestes sítios são encontrados inúmeros artefatos cerâmicos, incluindo até mesmo montículos artificias formados pelo acumulo de fragmentos cerâmicos.
O sítio arqueológico Hatahara, localizado em Iranduba, Amazonas, é um famoso exemplo de sítio de terra preta da Amazônia. Crédito: Valdirene Moraes.
Geoglifos
Outro tipo de sítio identificado na Amazônia são os sítios de geoglifos. Geoglifo é um termo que tem sido utilizado para se referir aos desenhos monumentais formados na superfície do solo. Sítios arqueológicos com presença destes desenhos são encontrados no mundo inteiro, tendo como exemplo mais famoso as linhas de Nazca, no Peru. No Brasil os geoglifos pré-históricos foram descobertos recentemente.
Por: Thiago Trindade
No Brasil, geoglifo é nome geral dado para sítios arqueológicos encontrados no Noroeste do estado brasileiro do Acre que apresentam valas artificias formando figuras geométricas variadas como círculos, quadrados e elipses – que podem aparecer de maneira isolada, interligada ou sobreposta a outras figuras. Este nome é um neologismo a partir do grego geo = “terra” e graphein = “escrever” e traça um paralelo outras complexas figuras geométricas, zoomorfas (em forma de animal) ou antropomorfas (em forma humana) encontradas em outros locais ao redor do mundo, como as linhas encontradas no deserto de Nazca, no Peru. Em outros locais no Sudoeste da bacia amazônica, entre o Sul de Rondônia e o Norte da Bolívia, sítios muito semelhantes aos encontrados no Acre são conhecidos por outros nomes, tais como zanjas circundantes (“valas circundantes”, em espanhol), canals e ring ditches (“canais” e “valas circulares”, em inglês), entre outros.
A Fazenda São Paulo, localizada em Xapuri, Acre, é um exemplos de sítio arqueológico com presença de geoglifos monumentais. Foto de Edison Caetano.
Devido à sua geometria precisa e à falta de funcionalidade aparente, alguns pesquisadores tem sugerido que tais sítios teriam desempenhado função religiosa ou cerimonial, sendo as suas linhas precisas a representação no solo dessa precisão em ídolos ou deuses encontrados em outros planos. A ausência de grandes volumes de materiais arqueológicos no interior destes espaços (tais como fragmentos cerâmicos ou solos orgânicos) que atestem atividade doméstica parece corroborar tal hipótese. No entanto, para as estruturas encontradas na Bolívia, outras funcionalidades foram propostas a partir de uma perspectiva mais utilitária. Entre estas hipóteses estão a organização e/ ou proteção da área de habitação com a construção de paliçadas associadas aos canais, armadilhas para animais, passarelas para transporte e canais para manejo hídrico. Estas últimas hipóteses baseiam-se na observação etnográfica de populações indígenas falantes de línguas do tronco Aruaque encontrados no interior das savanas inundáveis bolivianas e relatadas por cronistas espanhóis entre os séculos 16 e 18 d. C.
Variando entre 0,5 e 4 m de profundidade, 3 a 10 m de largura e entre 50 e até 1.000 m de diâmetro, muitas vezes é difícil perceber com clareza tais estruturas a partir do solo, no entanto é fácil localizá-los através de sobrevoos de baixa altitude ou através de imagens aéreas e de satélite – ferramentas muito utilizadas na busca por novos sítios atualmente. Estima-se que as valas tenham sido escavadas utilizando-se pás de madeira ou outros pequenos instrumentos de pedra, e que um grupo de 100 pessoas levaria 100 dias para construir uma estrutura de tamanho médio. No entanto, além de muita força física, podemos acreditar que seria necessário um alto nível de conhecimento técnico por parte de ao menos um dos seus construtores, que soubesse como construí-la e pudesse coordenar sua construção. Além disso, foi sugerido que a construção coletiva desses sítios poderia também ter atuado no processo de integração regional das populações que os construíram. Tais observações parecem apontar para a existência de algum grau de hierarquia ou liderança política entre seus construtores, que tornasse possível a mobilização coordenada e com eficácia de uma grande quantidade de pessoas simultaneamente.
Construção hipotética de paliçada de madeira no interior de uma vala – Desenho: Danny Brashear. Reprodução: Erickson, C. The Transformation of Environment into Landscape: The Historical Ecology of Monumental Earthwork Construction in the Bolivian Amazon. In: Diversity 2: 618-652, 2010.
Embora não tenha sido possível determinar ainda com precisão a data de construção das valas em si, os sítios arqueológicos onde são encontradas apresentam datas de ocupação indo de 2.500 a 500 AP, com a maioria das datas entre 2.000 e 1.000 AP. A construção dos geoglifos, portanto, é mais ou menos contemporânea à construção de outras estruturas de terra artificiais na Amazônia, tais como os campos elevados da Venezuela (1.700 a 350 AP) e da Bolívia (1.600 a 600 AP), os tesos da Ilha de Marajó (1.600 a 550 AP) ou os montículos da Amazônia central (1.300 a 1.000 AP) corroborando a hipótese de que o primeiro milênio da era cristã teria sido marcado por um intenso processo de mudança social nas diversas regiões que compõe a biota amazônica.
Sambaqui
Por: João Carlos Moreno de Sousa
Sambaquis são sítios de montículos artificiais formados por diversas camadas de sedimento, conchas, restos de animais (alimentares). Inclusive, a palavra Sambaqui tem origem Tupi (tamba = conchas; ki = amontoado). Ou seja, amontoado de conchas. Alguns pesquisadores ainda utilizam o termo sítio conchífero para se referir aos sambaquis. Este tipo de sítio, devido a alta concentração de conchas, permite uma boa preservação de vestígios ósseos, incluindo artefatos feitos de osso e até mesmo sepultamentos humanos. Estes sítios podem alcançar até surpreendentes 30 m de altura, se destacando bastante na paisagem, e são encontrados, geralmente, no litoral (próximos à praia) ou ao lado de rios, desde a Amazônia até a região Sul do Brasil. As vezes são confundidos com morros naturais, quando estão cobertos por vegetação.
O sítio arqueológico Cabeçuda, localizado em Laguna, Santa Catarina, foi o maior Sambaqui já registrado. A foto acima, de 1950, mostra o arqueólogo Luiz de Castro Faria (no plataforma à esquerda) durante as primeiras escavações no local. O sítio possuía 22 metros de altura, mas estima-se que possuía até 40 m de altura antes da destruição causada por empresas que usaram partes do monumento como material construtivo. Crédito: Arquivo de História da Ciência, Museu de Astronomia/ MCT (CFDA 05.08.067 F 003)
Cerrito
Por: Eliane Chim
Os cerritos, no Sul do Brasil, no Uruguai e na Argentina foram construídos por grupos desconhecidos historicamente. Tratam-se de montículos compostos por terra, fauna, cerâmica, lítico, entre outros materiais. Atualmente esses montículos também são chamados de aterros ou montículos antrópicos. Apesar de ocorrerem em abundância, no Brasil estes sítios ainda são pouco estudados.
Os cerritos são definidos amplamente, abrangendo uma gama de sítios com características muito diversas, uma vez que podem encontrar-se isolados ou em agrupamentos, em áreas alagadiças, em banhados ou na margem de rios e lagoas, ou em áreas secas. Com relação aos materiais encontrados nestes sítios, em alguns encontramos apenas líticos, em outros líticos e cerâmicas ou somente cerâmicas, alguns possuem sepultamentos e outros não. Quanto à fauna, existem sítios onde o material faunístico mais abundante são os mamíferos e outros onde predominam os peixes.
O sítio arqueológico Cerrito Ariano I, localizado no Sul do Brasil, possui 60 cm de altura no topo e cerca de 40 m de diâmetro. Crédito: Eliane Chim.
Quanto à funcionalidade, dimensões e datações, pesquisadores discutem se os montículos são marcadores territoriais, cemitérios, áreas de atividade doméstica, área de plantio, entre outras funções. Relativo às dimensões, os cerritos do Uruguai são os maiores, podendo chegar a até 100 m de diâmetro e 7 m de altura. No Brasil, os maiores cerritos não ultrapassam 1,5 m de altura. Para estes sítios foram encontradas datações de 5.000 a até 200 anos atrás, mas no Brasil a data mais antiga é de 2.500 anos atrás.
Devido à abundância de matéria orgânica, a terra que compõe estes sítios é escura e bastante fértil, sendo muito utilizada para agricultura atualmente. Dado este fator, os cerritos estão ameaçados de destruição e necessitam de pesquisas aprofundadas, pois a maior parte das pesquisas nestes sítios foi realizada na década de 1970 e atualmente elas se encontram em lento desenvolvimento.
Casa Subterrânea
Por: João Carlos Moreno de Sousa
Há ainda, no Sul do Brasil e no Uruguai, a ocorrência de sítios arqueológicos que têm sido chamados de casas subterrâneas. Acredita-se que estes sítios tenham servido como um abrigo artificial para seus moradores, similares às casas de aldeias indígenas atuais. A diferença está no fato de que as paredes da casa seriam formadas pelo solo cavado. Atualmente os sítios são geralmente identificados pela presença de uma depressão (um buraco) mais ou menos circular coberto com vegetação. A preservação da estrutura de uma casa subterrânea é é muita rara, já que ele acaba sendo naturalmente erodido ao longo do tempo.
Reconstituição de uma casa subterrânea pré-colonial. Fonte: Multiplica!
Pirâmides
Apesar das pirâmides do Egito serem a primeira coisa que vem à mente de muitas pessoas quando se fala em Arqueologia, não existem pirâmides no Brasil. Temos pirâmides no Peru e até no México, construídas por sociedades pré-colombianas. Mas de fato as pirâmides mais antigas estão no Egito, possuindo até 4.000 anos. É importante ressaltar que as pirâmides não são o único monumento arqueológico que reflete a complexidade de uma sociedade. Afinal todos os tipos de sítios arqueológicos citados nesta matéria existem no Brasil, sendo que alguns deles são raros, ou não existem fora do Brasil (como os Sambaquis). Aqui, apresentamos diversos tipos de sítios arqueológicos, sendo que em alguns deles descobrimos coisa que não foram descobertas fora do Brasil, e contribuíram de forma essencial para a compreensão das sociedades humanas.
O sítio arqueológico Chichén Itzá, localizado no estado de Yucatán, no México, foi uma cidade Maya/Tolteca que surgiu aproximadamente no ano 600 DC e foi abandonada por volta de 1200 DC (300 anos antes da chegada dos espanhóis). Dentre as construções que compõe a cidade está a pirâmide de Kukulkan.
Por: Márcia Jamille
Como um dos monumentos mais populares do Egito, as pirâmides têm chamado a atenção mundial para a Arqueologia Egípcia, ao mesmo tempo têm sido alvo de muitas interpretações precipitadas acerca dos motivos para a sua criação. Uma das proposições da Egiptologia é de que o conceito da invenção e uso das pirâmides estava ligado à crença do surgimento do Universo a partir do Num, um oceano etéreo de onde surgiu o Sol (representação do deus Atum), dando assim início à concepção do mundo conhecido. Uma das características marcantes deste mito é a emersão de um amontoado de terra deste mar primordial e que auxiliou na acessão do astro para o céu. Tal solo teria um formato piramidal.
Dom Pedro II em 1872 com sua comitiva em frente a uma das grandes pirâmides do platô de Gizé e uma das menores (canto superior direito). Estas construções têm sido alvo de visitas turísticas muito antes da invasão napoleônica em 1798.
Existem dezenas de pirâmides no Egito espalhadas de norte a sul, edificadas em diferentes períodos e momentos políticos. Datadas somente do Antigo Reino são mais de trinta, do Primeiro Período Intermediário são três, do Médio Reino quase vinte, do Segundo Período Intermediário são seis, no Novo Império uma da nobreza (provavelmente as pirâmides antrópicas foram substituídas por uma natural: o monte tebano El-Qorn, no Vale dos Reis) em contraste com dezenas particulares e finalmente no Terceiro Período Intermediário cerca de seis. Repasso estes números aqui somente para ilustrar uma contagem, uma vez que existem muitas outras as quais pouco sabemos, como é o caso daquelas pertencentes às Grandes Esposas Reais (cujo estudo ainda é desfavorecido), as que faziam parte da superestrutura da tumba de nobres (mas que colapsaram e a pirâmide se perdeu) ou mesmo as que nem sequer foram catalogadas ainda, como foi o caso da pirâmide escalonada de Edfu cuja “descoberta” (já se conhecia a estrutura, mas até então não tinha sido confirmada a sua outrora forma piramidal) foi anunciada no início de 2014.
Estes túmulos nos dão algumas informações acerca da prática do poder no Egito, sobretudo porque a edificação destes edifícios é a representação física da segregação hierárquica existente nas sociedades egípcias, especialmente no Antigo Reino: além de um empreendimento caro, acessível somente para o faraó e sua família, foi a partir delas, provavelmente com o faraó Unas, que textos religiosos passam a ser incluídos em sepulturas. Tais textos narram a viagem “pós-morte” dos reis falecidos. É válido relembrar aqui que é somente a partir do Médio Reino que as pessoas de fora do círculo da nobreza passam a poder aproveitar a possibilidade de também ingressar no além-vida.
A primeira pirâmide conhecida concebida no Egito encontra-se em Saqqara e foi arquitetada para sepultar o faraó Djoser. A notoriedade dada à sua edificação é tamanha que o seu engenheiro, Imhotep, nos períodos seguintes a sua morte ganhou o posto de divindade.
Embora a imagem das seis pirâmides do platô de Gizé (especialmente as três maiores) tenha se consolidado na mentalidade do senso comum, existem no país outros edifícios com formas diferentes, mas para o mesmo fim. As principais, reconhecidas como as “divisoras de águas” em termos de arquitetura, são:
A Pirâmide Escalonada de Djoser: Disponível para a visitação em Saqqara, foi erguida na 3ª Dinastia (Antigo Reino). A tradição egípcia acredita que ela é uma composição de uma sobreposição de mastabas.
A Pirâmide de Meidum de Snefru: Locada em Meidum, ela foi idealizada na 4ª Dinastia e é a primeira onde se pensou em uma pirâmide em sua forma clássica ( ). Mas a estrutura externa ruiu, existindo hoje em pé somente o seu núcleo.
A Pirâmide Romboidal de Snefru: Segundo experimento do faraó Senefru, mas desta vez em Dashur, ela foi mais uma tentativa de se criar um formato clássico, mas para equilibrar o peso em sua estrutura os engenheiros precisaram aumentar o ângulo do seu topo, criando uma forma curvada.
A Pirâmide Vermelha de Snefru: Provável terceira e última investida do faraó. Está igualmente localizada em Dashur e neste caso, finalmente, o formato clássico é alcançado.
O faraó Ahmés I (18ª Dinastia; Novo Império) foi o último governante nativo a edificar uma pirâmide e, como já citada, a prática passa a ser exercida por membros comuns da sociedade, mas que tinham condições de arcar com a despesa da construção de tumbas. Imitando a nobreza sepultada no Vale dos Reais, Vale das Rainhas e Vale Oeste, eles também adotaram sepulturas subterrâneas, mas com uma superestrutura (ou seja, a parte da tumba visível aos que ficavam do lado de fora do sepulcro) composta por uma entrada com uma pequena pirâmide em seu topo. Poucos são os lugares onde podemos vislumbrar este tipo de edificação, mas bons exemplos ainda são visíveis no cemitérios dos trabalhadores e oficiais de Deir el-Medina.
Com a chegada do Terceiro Período Intermediário, as pirâmides voltam a ser a preferência da família real, mas através dos faraós estrangeiros advindos da Núbia (atual Sudão), chamados hoje de “Faraós Negros” devido a cor da sua pele. As deles são notavelmente menores que as de Gizé, construídas séculos antes, mas são únicas a sua maneira.
Apesar de consolidadas como “túmulos”, nem em todos os casos as pirâmides podem ser definidas como tal. Existem alguns exemplos de estruturas que provavelmente não serviram para sepultar indivíduo algum, sendo utilizadas como um cenotáfio – em curtas palavras uma tumba falsa – ou contendo algum outro objetivo simbólico o qual ainda não nos está claro. Um exemplo é a Pirâmide Vermelha, que, embora seja o resultado de duas tentativas de Snefru, em sua câmara jamais foram encontrados vestígios de um sarcófago ou mesmo de algum outro tipo de sepultamento.
Por fim, existe um fascínio em tentar descobrir como estes edifícios foram construídos. Naturalmente a descoberta responderia uma das maiores questões da Arqueologia Egípcia, mas é necessário também tentar compreender quais teriam sido os impactos sociais da sua construção: Qual a extensão da busca de mulheres e homens comuns de diferentes períodos por alguma relação de identidade com estes edifícios (as pequenas pirâmides de adobe nos cemitérios dos trabalhadores em Gizé e Deir el-Medina podem entrar como pauta de discursão)? Até que nível ia a submissão por estas construções? Teriam sido vistas como um vínculo físico entre o mundo divino com o terreno (afinal, mesmo sepultando um representante das divindades, todas foram saqueadas ainda na antiguidade)? Foram alvos de peregrinações religiosas? Como é de se notar, existem mais perguntas do que respostas.
por: João Carlos Moreno de Sousa
Para finalizar, é necessário lembrar que quando um sítio arqueológico for encontrado o seu dever é contatar um profissional em arqueologia ou o IPHAN do seu Estado para registro do sítio. Lembre-se que apenas os arqueólogos tem o direito de escavar e/ou coletar os materiais presentes no sítio arqueológico. Os materiais encontrados nos sítios arqueológicos não possuem valor monetário, mas valor cultural. A única maneira deste conhecimento ser devidamente transmitido a todos é através de um profissional em arqueologia. De acordo com a lei brasileira, assim como da maioria dos países, a depredação de sítios arqueológicos e o tráfico de material arqueológico é crime.
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