17 de junho de 2019

Alquimia

O que você deve saber como fato e ou talvez queira acreditar enquanto fator!

Durante um longo período de tempo, um número significativo de pesquisadores acreditava plenamente na alquimia, a ideia de que você pode transformar praticamente qualquer coisa em diferentes tipos de metais, principalmente o ouro, o mais valioso deles. Naquela época ninguém iria te chamar de louco se você estivesse tentando transformar uma roupa que tivesse a mesma cor do ferro em uma barra de ferro propriamente dita.

Até hoje existe uma corrente enorme de pessoas que passam adiante esses “conhecimentos”, que de forma geral, se parecem mais com crendices e achismos absurdos. Eu mesmo já fui atrás de pessoas assim, diziam ter “conhecimentos” proibidos e escondidos por pessoas escolhidas e por grupos secretos que ainda mantém essas práticas. Nem preciso dizer que sempre me deparei com filosofias, doutrinas e conceitos que se pareciam mais com religiões, que com possibilidades reais e concretas mesmo. Nunca consegui ver ninguém transformar absolutamente nada em ouro, através da alquimia!

Eu cheguei a questionar mais duramente algumas pessoas e disse à elas que gravassem um vídeo, demonstrando o experimento, que narrassem nesse vídeo, todo o processo, que contextualizassem os objetos, ferramentas, equipamentos, substâncias químicas e elementos envolvidos. Mas nunca aceitaram...eles dizem sempre que esses “conhecimentos” e práticas devem ser mantidos em segredo...

Muitas pessoas que praticavam a alquimia, ainda em séculos atrás, acabaram por descobrir alguns princípios químicos, substâncias e elementos, isso é inegável...a simples prática de misturar e alterar fisicamente elementos, levou a isso.

Entre essas pessoas, estava Hennig Brand, um alquimista alemão do século XVII que decidiu que coisas que compartilham uma mesma cor poderiam estar relacionadas de alguma forma.

Um dia, ao fazer uma pausa nos seus estudos e ir ao banheiro, Hennig Brand percebeu que o xixi era mais ou menos da mesma cor do ouro. Foi a partir dessa constatação que Brand decidiu embarcar em seu mais ambicioso experimento que tinha como objetivo acumular e ferver enormes quantidades de urina humana na esperança que, de alguma forma, essa mistura bizarra produzisse ouro.

Se você está nesse exato momento zombando da “criatividade” do excêntrico Hennig Brand, é melhor rever seus conceitos! Isso porque o que ele encontrou no final do processo, se tornaria algo largamente utilizado ao redor do mundo.

Em 1669 Brand reuniu 50 galões de urina no porão de sua casa e adicionou-lhes produtos químicos que foi escolhendo arbitrariamente. A pasta resultante foi submetida a um processo de destilação, cujos vapores deveriam transformar-se em ouro quando resfriados em água. O que obteve, porém, foi uma substância que brilhava na escuridão.

Brand acabava de descobrir o fósforo!
Pensa só que interessante: o fósforo é uma substância química que usamos em muitas aplicações, desde palitos de fósforo a remédios e eletrônicos complexos, e tudo isso só foi possível por causa de um cara que ficou trancado em um porão escuro enquanto fervia o seu próprio xixi. Claro que ele provavelmente teria preferido o surgimento de algum ouro, mas o conhecimento que Hennig Brand deixou para toda a humanidade é proveitosa até os dias atuais.

Brand morreu no início do século XVIII sem receber o devido crédito por sua descoberta. Felizmente para ele, cartas encontradas por sua segunda esposa, comprovariam mais tarde todos os seus esforços, ainda que bem depois de sua morte. Sendo assim, da próxima vez que você tiver que ir ao banheiro, lembre-se que graças ao xixi, um homem se tornou a primeira pessoa desde períodos sociais humanos anteriores a descobrir um elemento.

O químico sueco Carl Wilhelm Scheele (1742-1786) descobriu em 1769 um processo semelhante à pasteurização que permitiu a produção de fósforo em larga escala e colocou a Suécia como líder mundial em produtos luminíferos.

Johan Gottlieb Gahn foi quem, em 1769, descobriu que, para a produção do fósforo de Scheele, o fosfato de cálcio era uma matéria prima mais abundante. Em 1775 ele sintetizou-o, tendo como base o fosfato tricálcio encontrado nos ossos de animais.

Em 1833 Jacob Friedrich Kammerer inventou os fósforos em substituição aos estuletes de madeira, cobertos de enxofre, descobertos um ano antes por Jones, e que se incendiavam quando friccionados contra uma lixa.

Em 1848 foram fabricados os primeiros fósforos de segurança, utilizando-se o fósforo vermelho.

E quanto a transformar urina em ouro?

Pessoal, vamos falar sério mesmo?! Sem ser leviano?

Falar no assunto de forma compreensível e que contenha mais fatos e menos fatores? Mais demonstrações objetivas e menos retóricas? Mais ciência aplicada e menos filosofia?

Até porque se não podemos ter acesso direto à experimentos e saber de fato do que se trata...já que parece ser um “conhecimento” proibido, simplesmente não podemos considerar como verídico! O que podemos mensurar, é que deve ser algo tão incrível e revelador, que vai reescrever o que já sabemos hoje sobre a física/química! Não sendo assim, simplesmente não faz nem muito sentido!

(Quintessência)

(Elixir da Vida)

(Pedra Filosofal)

São expressões que vem diretamente da Alquimia, mas antes do que ainda reconhecemos, antes mesmo da busca pela pedra filosofal, a alquimia fazia uma outra atividade bem conhecida:

A falsificação!

Os documentos mais antigos ligados à alquimia, que se tem conhecimento hoje, são os papiros, em especial os de Leiden e Stockholm que tem receitas com quase dois mil anos, escritas em grego, para piratas, falsários e estelionatários!

Fórmulas e reações para falsificar pérolas e esmeraldas; falsificar corantes que pareciam ser muito mais caros; fazer o cobre se parecer com a prata e a prata se parecer com o ouro.

Alquimistas realmente foram proibidos de tentar transmutar o ouro, várias vezes no passado...mas não porque, como dizem alguns teóricos retóricos, poderiam colapsar o sistema financeiro com o ouro, mas sim porque enchiam o mercado da época, com moedas, pedras e artefatos falsos.

Sim!! A noção de transmutação do ouro, ou seja, de transformar outros metais e materiais em ouro, veio da falsificação! Pensavam assim: Se era possível fazer com que a prata se parecesse com o ouro por fora, porque não transformá-la literalmente em ouro?

No passado essa correlação fazia todo o sentido!

Como Lawrence Principe conta em seu livro: “The secrets of Alchemy”, a noção do elixir da vida, por exemplo, veio da destilação do vinho. Que produzia uma água capaz de pegar fogo! Hoje conhecida como etanol.
Se essa água era capaz de curar feridas, de preservar elementos biológicos, quando imersos nela, uma poção capaz de “preservar a vida”, então para os alquimistas naquele momento, fazia todo sentido biológico.

Já a transformação de metais em ouro, fazia todo o sentido geológico. Até o renascimento, no mundo ocidental e de forma aberta, só eram reconhecidos sete metais e sete corpos celestes, que os alquimistas relacionavam uns aos outros.

Utilizavam-se das máximas: “Assim na Terra como no Céu” ou “Como acima, embaixo”.

Eles relacionavam assim:

Planeta Mercúrio X Metal – Mercúrio

Planeta Vênus X Metal – Cobre

Planeta Marte X Metal – Ferro

Planeta Júpiter X Metal – Estanho

Planeta Saturno X Metal – Chumbo

Satélite Lua X Metal – Prata

Estrela Sol X Metal – Ouro

A prata era um fator contaminante nas minhas de chumbo, o ouro era contaminante em minas de prata, o que levou a noção de que o ouro seria a forma final de metais, amadurecido com a pressão e o calor da terra, que se transformariam em prata e depois em ouro, um elemento dando origem a outros. Como o ouro não oxida naturalmente e continua praticamente com a mesma cor, ele deveria ser o estágio final dos metais.

Então a pedra filosofal, seria uma mistura ou composto capaz de dar aos outros metais, o que faltava para eles se tornarem o ouro.

Para a maioria dos alquimistas, geralmente era envolvido o enxofre e principalmente o mercúrio. O enxofre traria a parte quente e seca, enquanto o mercúrio, traria a parte fria e úmida.

Outros, como provavelmente foi o caso de Isaac Newton, acreditavam que o mercúrio seria capaz de extrair a essência do ouro dissolvido, para “germinar” essa essência em outros metais como o chumbo. Assim como um pouco de vinagre poderia transformar o vinho em ainda mais vinagre!

O que os alquimistas não sabiam é que a pedra filosofal deveria ser radioativa!

Depois da separação entre a alquimia e a química, no começo da ciência moderna, John Dalton em 1808, propôs que cada elemento químico era formado por um tipo único de átomo, com uma massa diferente.

Estudando a radioatividade, já em meados de 1900, Frederick Soddy e Ernest Rutherford descobriram que quando um átomo recebe ou emite radiação, pode se transmutar em outro elemento, como o tório decaindo para o rádio.

Com o tempo e ainda mais estudos, descobriram que quem determina qual elemento químico um átomo faz, é o número de prótons que ele tem, ou o número atômico. Qualquer átomo com 79 prótons por exemplo, é um átomo de ouro. Enquanto um com 82 prótons, é um átomo de chumbo. Então a pedra filosofal, precisaria retirar 3 prótons de cada átomo de chumbo para transmuta-lo em ouro.

Só precisavam de um acelerador de partículas, bastante energia e muita paciência, algo que Glenn Seaborg tinha em 1980, quando bombardeou o Bismuto, um elemento um pouco mais fácil de trabalhar e produziu ouro de verdade.

Mas afinal, de onde vem então o ouro que conhecemos?

De um outro tipo de transmutação, que tem a ver com o ouro acima, ou melhor, uma Estrela como o Sol.

O Hidrogênio é o combustível mais comum nas Estrelas, que combinam seus átomos com um próton e formam átomos de Hélio, com dois prótons. Um pouco da massa do Hidrogênio se perde e produz a energia que nós vemos e sentimos.

Conforme uma Estrela como o Sol envelhece, ela gasta o Hidrogênio e acumula Hélio, até o momento em que a energia que ela produz, não é mais suficiente para balancear sua própria gravidade, o que deve ocorrer com o nosso Sol, segundo o que podemos prever hoje, em cinco ou sete bilhões de anos. Quando o colapso do próprio peso da Estrela faz com o que o Hélio entre em fusão, em um novo ciclo, produzindo o Carbono e o Oxigênio.

Estrelas mais massivas que o nosso Sol, podem continuar a fundir elementos mais pesados, liberando energia e produzindo átomos de Neônio, Magnésio, Enxofre, Silício e até o Ferro e uma pequena parte de elementos mais pesados.

Mas isso tudo tem um limite!

Fundir o Ferro com 56 prótons, é um processo que consome mais energia do que é capaz de produzir! Uma Estrela que chega nesse estágio, não tem mais como se manter e pode entrar em colapso novamente e gerar uma Supernova! Combinando mais átomos ainda, praticamente um acelerador de partículas estelar, que produz os elementos mais pesados como o plutônio.

Por isso temos tão pouco ouro na Terra!

Elementos mais leves como o carbono, do qual somos feitos, são muito mais produzidos na “fornalha” estelar...e o pouco ouro produzido em Estrelas ou Supernovas, que a Terra acumulou enquanto se formava, afundou junto com o Urânio e a platina, ou outros elementos mais densos, que acabaram por ir em direção ao núcleo do planeta, quando sua crosta ainda era mais viscosa.

Já o Silício que também forma a areia, por exemplo, que é muito menos denso, ficou muito mais próximo à superfície! Por isso vivemos em continentes de Silício e não de Ferro.

A maior parte do ouro que encontramos aqui na Terra, veio depois de sua própria formação...veio de cima, através de fragmentos de rochas espaciais!

Os alquimistas só não sabiam porque temos tão pouco e se quisessem transformar o elemento Bismuto, como fez Glenn Seaborg, em ouro, gastariam aproximadamente 2 quadrilhões de dólares por quilo de ouro...segundo a Scientific American.

Seria melhor esperar que o ouro caísse do céu mesmo, ou sair do nosso planeta e ir atrás de minerar mais ouro em outros locais! Ainda assim, seria mais barato!

Bom...agora que conhecemos um pouco da história da alquimia e também dos avanços científicos que separaram, de certa forma o que era apenas um conceito retórico, da ciência de fato, talvez você também esteja mais inclinado a saber, do que acreditar!

Ainda temos muito mesmo para descobrir e aprender, mas simplesmente não podemos mais negar o que nossa ciência foi capaz de nos trazer enquanto fato! A alquimia foi certamente um fator muito importante em determinados momentos sociais humanos, mas não fez e ou faz “milagres”, não é capaz de criar conceitos que estariam sobrepostos à própria ciência em si!

Ou fez, faz? Além de sua retórica, filosofia, do que você admitiu acreditar, pode nos apresentar mais? É capaz de forma direta e resoluta, de mudar esse fato em si e nos apresentar mais dados? Experimentos? Resultados?

Ou vai também nos dizer que são “conhecimentos” e práticas proibidas...escondidas...?!

Escrito por Rodrigo Stenio

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