12 de março de 2019

Arqueólogos exploram caverna maia que não foi perturbada por mais de mil anos

Centenas de artefatos maias incrivelmente bem preservados, protegidos por um tesouro arqueológico chamado Balamkú (“a caverna do deus jaguar”), foram encontrados no México.

“Balamkú vai ajudar a reescrever a história de Chichén Itzá”, disse o arqueólogo Guillermo de Anda, do Instituto Nacional de Antropologia e História do México, diretor do Grande Projeto Aquífero Maia.

A descoberta da caverna

Luis Un era apenas um garoto quando visitou a caverna pela primeira vez. Era 1966 e os fazendeiros haviam tropeçado na gruta oculta por acaso. Eles alertaram um proeminente arqueólogo mexicano, que prontamente lacrou sua entrada. Décadas se passaram, o estranho lugar foi esquecido. Mas não por Luis Un.

Em 2018, Un, agora com 68 anos, levou arqueólogos de volta a esse segredo nunca perturbado sob a antiga cidade maia de Chichén Itzá, ao longo da borda norte da península mexicana de Yucatán.

O que ele contém, os pesquisadores anunciaram nesta semana: a descoberta mais importante na região desde os anos 1950.

“As centenas de artefatos arqueológicos, pertencentes a sete [câmaras de oferendas rituais] documentadas até agora, estão em um estado extraordinário de preservação”, afirmaram.
Importância das cavernas para os maias

De acordo com a equipe, nos períodos do clássico tardio (700-800 dC) e clássico terminal (800-1000 dC) da civilização maia, as secas na região de Yucatán obrigaram seus antigos habitantes a procurar água em outro lugar.

Em sumidouros naturais chamados cenotes e nos vastos sistemas de cavernas ramificando-se deles, os maias encontraram não apenas água vital, mas algo mais: a divindade.

“Para os maias antigos, cavernas e cenotes eram considerados aberturas para o submundo”, explicou o antropólogo Holley Moyes, da Universidade da Califórnia (EUA), à National Geographic. Moyes não esteve envolvido com o estudo.

Sendo assim, tais cavernas são alguns dos espaços mais sagrados para os maias. “Também influenciaram o planejamento do local e a organização social. São fundamentais, extremamente importantes para a experiência maia”, completou Moyes.
Balamkú

Essas gigantescas cavernas submersas habitadas há muito tempo podem produzir tantos segredos sobre a misteriosa cultura maia quanto as igualmente épicas moradas construídas acima do solo.

Uma das mais famosas dessas estruturas é El Castillo – também conhecido como o Templo de Kukulcána, uma impressionante pirâmide que forma um dos marcos centrais de Chichén Itzá. Curiosamente, ela está a menos de três quilômetros da caverna recentemente explorada.

Esta proximidade faz de Balamkú, e dos mais de 200 artefatos que contém, um achado verdadeiramente admirável.

“Como permaneceu fechada por séculos, contém informações valiosas relacionadas à formação e queda da antiga ‘Cidade dos Magos da Água’, e sobre aqueles que foram os fundadores deste local icônico”, esclarece de Anda.

Os itens encontrados até agora incluem incensos e recipientes para alimentos e bebidas, muitos com a iconografia de Tlāloc, o deus da água e da fertilidade que aparece em diferentes formas nas antigas culturas mesoamericanas.

Próximos passos

Alguns dos artefatos contêm traços antigos de alimentos, ossos, minerais e sementes. Ao analisá-los, os pesquisadores poderiam aprender ainda mais sobre as pessoas que habitaram esse espaço tantos anos atrás.

Além disso, podemos esperar novas descobertas, já que a caverna se estende por centenas de metros, que ainda precisam ser explorados em profundidade.

Parte da razão pela qual os artefatos estão tão bem preservados em Balamkú é porque a caverna é um recanto inacessível e um esconderijo natural – os arqueólogos tiveram que se curvar e se arrastar para viajar através dela, especialmente em trechos que têm apenas 40 centímetros de altura. Também não há muito oxigênio.
O próximo passo da equipe é procurar por uma possível ligação subterrânea com a pirâmide vizinha.

De qualquer forma, os objetos encontrados já servem como uma inestimável conexão tangível entre uma cultura desaparecida e os exploradores de hoje. “Eu não conseguia falar, comecei a chorar [quando entrei na caverna pela primeira vez]. Você quase sente a presença dos maias que depositaram essas coisas lá”, disse de Anda à National Geographic.


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